06 fevereiro, 2006

Vítimas de assédio moral abrem o verbo

06/02/2006 - 12h33m


Globo Online
RIO - Três profissionais que sofreram na pele as conseqüências do assédio moral contam suas experiências.
S. C. - auxiliar de enfermagem

"Janeiro foi um mês fora de série: minha chefe entrou de férias. Durante trinta dias, fiquei livre dos seus insultos e ameaças. Foi o mês mais calmo que tive no trabalho até hoje. Eu sou auxiliar de enfermagem em uma Unidade Básica de Saúde e sofro todo tipo de pressão psicológica diariamente. Minha superior gosta de me humilhar em público falando em alto e bom que eu sou encrenqueira, que não sei trabalhar em equipe, entre outras coisas. Se lhe peço algum tipo de orientação profissional, ela reclama: 'Ah, lá vem você de novo!'.
Pensei em conversar com ela algumas vezes, mas acabei me calando. Em certa ocasião, sugeri levar o caso ao diretor e ela me acusou de estar ameaçando-a. Fez um escândalo na frente dos outros os funcionários, criando um enorme constrangimento.Desde que comecei a trabalhar com ela, choro à toa, tenho dores de cabeça e sinto uma tensão muscular tão forte que parece que tomei uma surra. Já cheguei a falsificar um atestado médico pra não ter que ir trabalhar. Pretendo ser transferida da unidade o quanto antes."
L. D. - jornalista
"O autor do assédio moral não age como um raivoso e corajoso tubarão, que estraçalha suas vítimas e causa espanto na platéia. É sofisticado e covarde como um vírus, destrói suas células, corrói seus ossos e, quando você menos percebe, está morto em vida. O mentor não quer aplausos. Quer, consciente ou não, que o outro cometa a autofagia. Atua atrás das cortinas. Vê da fresta a vítima cair em cena.
Sem metáforas, há uns seis anos, senti isso no meu psique e no meu corpo. O método de ação é simples: pedir o quase impossível e, mesmo se realizado, tratar como banal. É como se os músculos reagissem e o esforço não movesse sequer o ar. Poucos conseguem perceber a presença do vírus. Culpa a si pelo fracasso. A metamorfose dura meses e, no fim, nasce um profissional incompetente e descartável pronto para pedir demissão ou ser demitido.
Para quem pratica o assédio, isso não é o fundamental. O importante é que o processo seja interpretado pela platéia e pelo ator como natural. Não há um antídoto. E o mais perverso é que 'o sair da empresa' não é a conseqüência mais grave desse ataque. As seqüelas na autoconfiança são profundas. O assédio moral é a porta de entrada para poço sem fundo da depressão.
Talvez uma ação na Justiça possa, se a causa for ganha, aliviar a conta com o analista e/ou com a farmácia. É pouco para quem deixou de existir por um período e vai precisar da ajuda do tempo para voltar a Ser."
D. V. - servidora pública
"Trabalho há dez anos como servidora pública e durante seis anos sofri nas mãos do meu chefe. Perdi as contas de quantas vezes fui humilhada, perseguida, ameaçada e desrespeitada. Minhas opiniões eram sempre menosprezadas; reuniões eram marcadas sem que eu tivesse conhecimento prévio da pauta de discussões; maledicência com o meu nome e uso de termos chulos eram freqüentes. Inúmeras vezes tive que engolir um 'o que você está pensando?' seguido de 'quem manda aqui sou eu'.
Depois de ser caluniada e difamada, fui penalizada com uma transferência para uma unidade que ficava a quase duas horas da minha casa (antes eu levava dez minutos para chegar ao trabalho). Minha vaga foi ocupada por uma pessoa que, apesar de menos competente, era amiga do chefe. Fui rebaixada de cargo, fiquei na geladeira e minha pasta foi praticamente esvaziada. Busquei, em vão, o apoio do chefe-geral. Mas ele sugeriu, em outras palavras, que a incomodada se retirasse.
Minha auto-estima foi a zero. Senti-me um nada, um Zé Ninguém, apesar da minha formação superior, da minha pós-graduação e dos cursos que fiz ao longo da carreira. Cheguei a acreditar que o problema era comigo. Duvidei totalmente da minha capacidade.
Isso, claro, se refletiu na minha vida pessoal. Tornei-me uma pessoa nervosa e descarregava todas as minhas angústias nos meus familiares. Muitas doenças apareceram, nesse meio tempo. Engordei muito, tive depressão e síndrome do pânico. Temia que algo pior pudesse acontecer, mas nunca apresentei um atestado médico, porque era ameaçada de demissão constantemente.
O circulo de horror durou muito tempo e por fim joguei a toalha. Era isso ou ficar seriamente doente. Tive que deixar para trás um ideal de vida, para que pudesse ter paz e saúde."

Fonte:
http://oglobo.globo.com/especiais/vivermelhor/mat/191559562.asp




06/02/2006 - 11h40m
Asédio moral: corte o mal pela raiz

Globo Online
RIO - O assédio moral deve ser combatido assim que os sintomas forem detectados. O ideal é ter uma conversa séria com o seu chefe já na primeira vez em que o abuso acontecer, para evitar que ele se repita e vire um padrão de relacionamento. Se a situação já estiver estabelecida, siga as dicas dos consultores entrevistados pelo 'Viver Melhor' para tentar reverter a situação:
- Anote com detalhes toda as humilhações sofridas (dia, mês, ano, hora, local ou setor, nome do agressor, colegas que testemunharam, conteúdo da conversa e o que mais achar necessário). Isso pode ser muito útil caso você decida abrir um processo contra o seu chefe.
- Busque apoio dentro da empresa. Fale com os colegas de trabalho que são ou já foram vítimas de agressões, intimidações ou humilhações. Mas evite ficar falando mal do seu chefe pelos corredores. Mantenha uma postura profissional, apesar de tudo.
- Se for possível, evite conversar com o seu superior sem testemunhas. Esteja sempre acompanhado de um colega de trabalho de sua confiança ou mesmo de um representante sindical.
- Se você já tentou (em vão) conversar com o seu chefe, vale recorrer ao setor de Recursos Humanos da empresa. Exponha a situação da forma mais clara possível e tire as suas dúvidas; Se for do seu interesse, sonde a possibilidade de uma mudança de setor.
- Se você decidir continuar na empresa, vai precisar de muito jogo de cintura. Tenha bom senso nas suas colocações e evite, a todo custo, bater de frente com o seu chefe. Tente agir com indiferença frente a possíveis agressões ou ironias. Mostre-se disposto para o trabalho. E esforce-se para não cometer erros que possam se converter em atritos ou gerar cobranças.
- Se decidir entrar na Justiça contra o seu chefe (ou contra a empresa), você vai precisar reunir provas documentais (cartas, mensagens, avaliações) e testemunhas que tenham presenciado o assédio, o que nem sempre é fácil. Muitas vezes, apesar de solidários, os colegas de trabalho preferem não se envolver por medo de perder o emprego.

- Não descarte a possibilidade de mudar de emprego, por mais drástico que isso possa parecer. Não encare isso como uma derrota. O assédio moral é desumano e pode abalar profundamente a auto-estima do profissional, de forma irrecuperável. À vezes é melhor abrir mão do emprego em prol da qualidade de vida e da saúde física e mental.

Fonte:
http://oglobo.globo.com/especiais/vivermelhor/mat/191562236.asp

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