24 fevereiro, 2006

Demissão de professores abre crise na FGV

23/02/2006 - 09h27

FÁBIO TAKAHASHI
da Folha de S.Paulo

Quarenta professores do curso de administração da FGV-SP, um dos melhores do país, entregaram anteontem um documento à direção da escola em que pedem explicações sobre a demissão de 16 docentes da escola, ocorrida neste mês. No texto, eles se dizem "preocupados com as conseqüências acadêmicas desse fato".

Fazem parte da lista (enviada ao diretor Fernando Meirelles) o diretor acadêmico, três coordenadores, cinco dos sete chefes de departamento e um ex-diretor. Os 40 docentes são integrantes da Congregação, principal instância da escola, que é formada por pouco mais de cem pessoas, representando todos os seus segmentos. O corte também gerou protestos de alunos e de funcionários.

Como os nomes não foram discutidos dentro da faculdade (como tradicionalmente ocorre), esses grupos entendem que a direção pretende acabar com a democracia da instituição, que é uma de suas marcas. A conseqüência disso, diz esse grupo, é que docentes e pesquisadores passariam a ter receio de abordar assuntos que possam desagradar aos dirigentes, com medo de retaliações e até demissão --o que influi na qualidade de ensino de uma faculdade.

Anteontem, alunos distribuíram um manifesto, chamado de "Democracia em risco". O texto, assinado por associações representativas de estudantes e de funcionários, afirma: "[...] preocupa-nos a possibilidade de motivações subjetivas ou políticas nestas demissões". Além disso, 160 camisetas foram distribuídas a alunos com frases de protesto.

Congregação

A principal queixa na faculdade é que os cortes não foram discutidos pela Congregação. "A escola vive um clima democrático, que cultiva o contraditório, base para a excelência acadêmica. E isso está ameaçado", diz o professor Michael Paul Zeitlin, ex-diretor da faculdade e secretário de Transportes de São Paulo entre 1997 e 2002, durante a gestão Mário Covas. Zeitlin é um dos signatários da lista. "Fazem parte da GV nomes tão distintos quanto Eduardo Suplicy [senador pelo PT] e Marcos Cintra [ex-deputado federal pelo PFL]."

A direção da escola afirma que o corte ocorreu simplesmente devido a um ajuste financeiro.

"Até entendemos fazer um ajuste, mas tudo precisa ser discutido dentro da faculdade", diz Celso Napolitano, também professor da escola e diretor do Sinpro-SP (sindicato dos professores). "Do jeito que foi feito, houve cerceamento da liberdade de expressão, o que prejudica a qualidade acadêmica. A GV pode começar a ter uma visão simplesmente mercantilista."

Os alunos endossam as críticas. "Demissões assim [sem discussão] podem tirar da faculdade pessoas importantes", diz o presidente do diretório acadêmico da faculdade, Fernando Oshima.

Outro lado

A direção do curso de administração da FGV-SP afirmou que os cortes ocorreram por ajuste financeiro e negou que tenham sido arbitrários. A Folha pediu ontem, durante toda a tarde, entrevista com diretores da escola, sem sucesso. Quem falou pela faculdade foi seu advogado, Décio Freire.

"As demissões imotivadas, sem justa causa, não precisam passar pela Congregação", disse. Ele negou que tenha havido arbitrariedade. "As demissões foram legítimas. Cumprimos à risca a legislação trabalhista. É papel do empregador definir coisas como essa. Instituições admitem e demitem. Não adianta ficar tentando mostrar o que não existe."

Freire manteve a explicação dada no começo do mês, quando houve o anúncio do corte. "Foi apenas um ajuste financeiro." À época, afirmou que a GV possuía um "número confortável de professores" e que alguns até estavam subaproveitados. Por isso, poderia cortar 16 dos 300 docentes sem que houvesse perda na qualidade acadêmica.

Ele disse desconhecer o pedido de explicações feito por 40 professores. "Estamos abertos a qualquer explicação. Mas reitero que esse não é um assunto que deve ser discutido pela Congregação."

Fonte:
http://www1.folha.uol.com.br/folha/educacao/ult305u18400.shtml

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