09 fevereiro, 2006

Corregedoria ouve guarda que teria ajudado menor a se drogar

09/02/2006 - 13h01m


Globo Online
SP TV

SÃO PAULO - Uma cena fotografada e publicada nesta quinta-feira na 'Folha de S.Paulo' levou a Corregedoria da Guarda Civil a abrir sindicância interna. Um guarda municipal foi flagrado ajudando um menino de rua a se drogar com cola de sapateiro na Ladeira da Memória, no centro. O guarda estaria 'esquentando' a cola, que estava numa garrafa de refrigerante, com um isqueiro. O guarda foi identificado e está prestando depoimento a uma comissão da Corregedoria.

Segundo o corregedor-geral da Guarda Civil, Paulo César Máximo, o policial apresentou outra versão.

- A versão dele é que realmente é ele que aparece na foto, mas simplesmente apreendeu o frasco com o isqueiro, que estavam no menor, e colocou em lixeira que estava no Vale do Anhangabaú.

Ele trabalhou pessimamente mal e vai responder por isso - disse o corregedor.

Segundo a Corregedoria, o guarda poderá responder por tráfico de entorpecentes, que é crime hediondo e inafiançável.

A cena de crianças se drogando na rua é comum no centro de São Paulo. As pessoas passam e parece até que não percebem que ali tem criança se drogando. Segundo o corregedor, os guardas civis têm como missão preservar o patrimônio público, mas nada impede que ele interfira caso flagre alguém cometendo um delito. Perguntado sobre a orientação dada no caso de meninos de rua, ele informou que o guarda deveria acionar a Polícia Militar, que ajudaria no recolhimento do menor e no encaminhamento ao conselho tutelar.

Mas uma reportagem do SPTV 2ª edição, da noite desta quarta-feira mostrou que não é tão fácil obter atendimento imediato dos Conselhos Tutelares a menores em situação de abandono nas ruas da cidade.

Na Praça Júlio Prestes, no centro, às 9h30m da manhã três meninos fumam crack na frente de todos que passavam pelo local. Três adultos se juntaram às crianças e dividiram a droga. O repórter entrou em contato com o Conselho Tutelar. A conselheira disse que iria pedir apoio à prefeitura. Quarenta minutos depois, ninguém apareceu e os menores foram embora.

Também no centro, um menino estava dormindo na calçada. Quando acordou, parecia sob o efeito de drogas. Perguntado, não disse a idade, apenas que mora na rua há seis anos. Novamente foi feito contato com o Conselho Tutelar.

- Nós somos cinco conselheiras. Todo mundo tá em ação, né, todo mundo tá em atividade. Então, não pode o Conselho ficar sozinho aqui, né ? Então, eu vou pedir apoio do Acolher que é um órgão que nos ajuda. Quando é assim, ele vai até lá também. Eu vou pedir agora, tá bom? - disse uma das integrantes.

Desta vez, um carro do Serviço de Proteção à Criança da Prefeitura apareceu em meia hora. Os funcionários da prefeitura procuram o menino nas imediações da praça e não o encontram. Mas mesmo que tivessem falado com o garoto e percebido que ele estava drogado, não poderiam fazer nada. A criança continuaria na rua.

Sem saber que estava sendo gravado o agente social diz que não pode recolher as crianças quando estão sob o efeito de drogas.

- Se ele tiver drogado, nós não levamos.

Fica na rua? - pergunta o repórter.

- Fica na rua. Mesmo que ele querendo ir, a gente não leva.

Mas não tem pra onde levar? - insiste o repórter.

- Não tem.

Um levantamento da prefeitura revela que 1.030 crianças vivem nas ruas da capital. Os bairros que concentram o maior número de menores são: Santo Amaro, Vila Mariana, Pinheiros, Lapa, Sé, Mooca, Santana e Aricanduva. O secretário municipal de Assistência e Desenvolvimento Social negou que a orientação aos agentes da prefeitura seja deixar na rua os menores sob efeito de drogas.

- Se conseguirmos convencê-lo a sair daquele local, levamos imediatamente para um posto de saúde ou para um centro de referência da saúde ou tratamento de dependência química - diz Floriano Pesaro, secretário de Assistência e Desenvolvimento Social de São Paulo.

Na terça-feira, menores que vivem nas ruas da capital foram à Baixada Santista e fizeram um arrastão perto de uma escola em São Vicente. O grupo era formado por 12 integrantes, 10 deles menores de idade. Eles contaram à polícia que viviam na rua, no Vale do Anhangabaú e na Praça da Sé, no centro da capital, e pegaram carona num trem de carga para ir até a Baixada Santista. Ao chegar em São Vicente, eles desceram na rua de um colégio e passaram a abordar os alunos que entrariam para a aula. As mães ligaram para a polícia. Os menores serão encaminhados para o Conselho Tutelar do município.

Fonte:
http://oglobo.globo.com/online/sp/plantao/2006/02/09/191626468.asp

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