23 fevereiro, 2006

Crescimento de Lula entre mais ricos e instruídos no Datafolha não surpreende analistas

22/02/2006 - 18h34m
Hilda Badenes e Luisa Valle - Globo Online

RIO - A pesquisa do Instituto Datafolha divulgada nesta quarta-feira mostra que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ganha espaço na classe média e entre os eleitores mais bem informados. Num possível confronto, o presidente ainda perde para o prefeito de São Paulo, José Serra, e para o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin. Analistas políticos ouvidos pelo GLOBO ONLINE não se surpreendem com este resultado.

O historiador Carlos Eduardo Sarmento, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), acredita que a parcela mais informada e de maior renda da população "perdeu o medo" de Lula diante da estabilidade econômica oferecida pelo governo.

- É uma parcela da sociedade que não prioriza os indicadores sociais. O dólar e o risco-país em queda transmitem sensação de segurança. Não estamos à beira da catástrofe como muitas pessoas pensavam. E, sim, com perspectivas de crescimento. Que gestão inábil é essa que apresenta índices melhores que o do governo Fernando Henrique? Eles viram que não é preciso ter um governo do PSDB para ver esses sinais positivos na economia. Ele (Lula) manteve o modelo de gestão macroeconômica e corrigiu algumas coisas, criando um cenário favorável para certos setores.

Para a cientista política Lúcia Hippólito, o resultado também era esperado.

- Os empresários e a classe média alta se preocupam com a economia. A economia no governo Lula está indo bem, não há nenhuma grande variação. Isso sem contar que alguns empresários acham Serra, possível candidato do PSDB, muito independente. Para esses é melhor Lula continuar, pois a economia se mantém estável - afirmou.

O presidente do Instituto Brasileiro de Pesquisa Social (IBPS), Geraldo Tadeu Monteiro, também acredita que o avanço do presidente entre os eleitores de classe média é um reflexo dos bons resultados na economia, sobretudo da estabilização dos índices e da correção da tabela do Imposto de Renda, uma antiga reivindicação deste eleitorado.

Na opinião dele, a tentativa do presidente de recuperar a agenda positiva - destacando na mídia as realizações do governo - também colabora para seu crescimento nas pesquisas.

- Ele (Lula) já dobrou o Cabo da Boa Esperança. Mas não chegou às Índias ainda. O presidente conseguiu dominar o momento de crise e está recuperando os índices que tinha antes dela. A candidatura de Serra cresceu à medida que a popularidade de Lula caía por causa dos escândalos. Se pudéssemos, como na economia, descontar os efeitos da sazonalidade, voltaríamos aos níveis anteriores à crise - explica.

E acrescenta:

- Além disso, o presidente resolveu fazer campanha e mostrar as realizações do governo. Isso é nítido. Ele multiplicou as aparições na mídia, deu entrevistas, está inaugurando obras. Tudo isso é importante para recuperar a agenda positiva.

Na opinião de Sarmento, da FGV, este cenário tende a se estabilizar, salvo alguma nova crise.

- Não há no cenário econômico nada que possa ser desestabilizador, talvez no político. É uma tendência que sinaliza para uma estabilidade, o cenário catastrófico não deve voltar.

Monteiro, do IBPS, lembra ainda que nos últimos dois meses o foco da crise política saiu do Planalto para o Congresso, aliviando a imagem do presidente.

- A convocação extraordinária para não interromper os trabalhos das CPIs foi um tiro que saiu pela culatra. O Congresso começou a ser punido, pois o que apareceu na opinião pública foi o custo desta convocação - avalia.

O historiador Carlos Eduardo Sarmento também lembra que a questão da corrupção, neste momento, está muito presa ao Legislativo.

- Agora o enfoque está em cima do Congresso. Com isso, consegue revestir o presidente de camada protetora, que tem ainda a seu favor os indicadores econômicos e sociais - diz o professor da FGV.

Outro fator que favoreceu o presidente, na opinião de Lúcia Hippólito foi o tempo. Para ela, os empresários viram que meses após a crise, não mudou na economia do país. Isso foi decisivo para esse aumento de credibilidade.

Lúcia Hippólito também acredita que a indefinição do PSDB também ajudou Lula. Segundo a cientista política, enquanto a oposição não se manifestar, Lula vai continuar em vantagem:

- Ele está concorrendo sozinho. É uma super exposição da imagem do presidente. Ele aparece todos os dias. Enquanto isso há um sumiço dos outros partidos.

A culpa disso, para Lúcia Hipólito, não é do presidente, mas da própria oposição. Para ela, não está havendo uma reação, algo que pode começar a mudar com o resultado da última pesquisa.

- Não adianta brigar com números. Em vez de criticar, os partidos opositores ao governo deveriam começar a aparecer. Muitos criticaram a pesquisa publicada pelo CNT/Sensus, mas o instituto Datafolha acabou de comprovar essa tendência de aumento das intenções de votos para Lula - afirmou.

Em relação ao impasse interno no PSDB, Monteiro acredita que o resultado da pesquisa Datafolha complique ainda mais a escolha do candidato tucano.

- Apesar dos esforços e das aparições, Alckmin não conseguiu crescer. Se houvesse sinalização neste sentido, poderia até sugerir uma tendência para o partido. Como isso não aconteceu, acredito que a situação está ainda mais complicada.

Apesar das boas perspectivas, Monteiro não acredita que Lula chegue aos patamares da eleição de 2002, quando detinha de 45% a 48% das intenções de votos. Na opinião dele, o presidente deve se estabilizar numa faixa de 40% no primeiro turno, o que considera uma posição bastante confortável.


Fonte:
http://oglobo.globo.com/online/pais/mat/2006/02/22/191944477.asp

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