21 fevereiro, 2006

Quanto custa a reacreditar num sonho?

Diante das duas reportagens abaixo, a primeira, criticando o uso 'eleitoreiro' de uma viagem espacial, e que o dinheiro seja usado para financiar as pesquisas de um satélite brasileiro, sendo 100% brasileiro.

O que me espanta é que o conceito de 100% brasileiro implica que tudo o que foi inventado deva ser substituído por outra 'coisa', pelo simples fato de ser feito no Brasil? A Embraer é uma das empresas líderes de venda nos modelos domésticos, e apesar disto, não constrói todos os componentes do painel! Será que os cientistas não estão sendo um pouco demasiados ufanistas?

Para um país que para a maioria das crianças de 'pés descalços' a referência para eles sejam jogadores de futebol, que apesar também do talento e criatividade, a ciência também se faz com horas sentado a uma mesa estudando. E para isto, referências fora de um círculo que não seja só a bola de futebol, o círculo do meio de campo e os belos estádios como a Maracanã e Mineirão, também são bem vindos. Estes novos círculos, mais sólidos, arredondados são a Terra e a Lua. E o nome do novo jogador para nós brasileiros é o "astronauta", ou "cosmonauta" para os russos.
Pode parecer desperdício de dinheiro público, imagino que quando eu era pequeno, muitos garotos gostariam de ser astronautas, construímos foguetes ou aviões para nossos sonhos. Ensinaram-me que Deus estaria nos céus. Quando o homem atingiu a Lua, ele transpassou estes céus. Perguntei para minha mãe: "O astronauta conseguiu ver Deus?". Minha mãe respondeu-me que não. Isto me deixou mais com dúvidas, pois qualquer criança sabe intuitivamente que as nuvens estão mais próximas de nós que a Lua. Então onde estava Deus quando o foguete passou? Esta interessante pergunta de criança já estava respondida há pelo menos 2000 anos, pelo primeiro a viajar entre estes mundos. Ele disse: "Estou em todos os lugares, levante uma pedra e lá estarei...". Depois muita gente deturpou o que disse, em benefício próprio certamente.Mesmo que não houvesse um astronauta brasileiro, tenho certeza que muitas crianças ainda continuariam a sonhar em serem astronautas um dia, mesmo nosso país não dispondo de tanta tecnologia. Mas assim como sabemos que 'Papai Noel' não existe, dizer que não podemos ter um astronauta brasileiro, é tirar o sonho de uma criança, digo, muitas crianças. Para um país que tem tanta tecnologia e foi capaz de ter tantos astronautas, nos parece inacreditável que tantos hoje tem a ciência como descrédito ou não acreditar na teoria da evolução das espécies. Agarra-se a preconceitos medievais ou novos dogmas pseudocientíficos. Pergunte a qualquer criança quanto custa ser um astronauta, ela te responderá que não custa nada, pois sonhar não custa nada. Mas depois de destruir o sonho, pergunte para qualquer um quanto custa reacreditar num sonho.

Veja abaixo as reportagens:


Rio, 21 de fevereiro de 2006

Desperdício espacial

Com um custo estimado entre US$ 10 milhões e US$ 15 milhões — a ser pago com o escasso dinheiro público — a primeira viagem de um brasileiro ao espaço é alvo de justificada polêmica entre cientistas. Não faltam críticas.

Para O presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, Ennio Candotti, por exemplo, seria muito mais proveitoso para a ciência e para o Brasil que esse dinheiro fosse empregado no desenvolvimento de um satélite 100% brasileiro.

E o contato que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva vai fazer com o astronauta Marcos Pontes, quando este estiver no espaço, faz temer ainda que a viagem acabe sendo utilizada para fins político-eleitorais.

Fonte:
http://oglobo.globo.com/jornal/mundo/191927892.asp


Rio, 21 de fevereiro de 2006

Cientistas pedem a religiosos para defender evolução

Roberta Jansen
Enviada especial

ST. LOUIS, Missouri. Cientistas reunidos no Encontro Anual da Sociedade Americana para o Avanço da Ciência (AAAS, na sigla em inglês) fizeram ontem um apelo às lideranças religiosas de todo o mundo para que os ajudem a combater políticas que interferem no ensino da teoria da evolução.

Os especialistas reunidos em St. Louis, Missouri, divulgaram ontem um comunicado no qual criticam o ensino do projeto inteligente nas aulas de ciência que vem sendo adotado em alguns estados americanos. Para eles, a matéria interfere na formação científica das crianças. Os partidários do criacionismo e seu projeto inteligente defendem a idéia de que a vida é muito complexa para ter se desenvolvido sozinha e que, portanto, haveria um “projetista” por trás.

— Essas tentativas de misturar religião nas aulas de ciência são danosas para estudantes, pais, professores e todos que pagam impostos — sustentou o presidente da AAAS, Gilbert Omenn. — É tempo de reconhecer que ciência e religião não podem nunca ser colocadas uma contra a outra. Elas podem e devem coexistir no contexto da vida da maioria das pessoas. Mas não nas aulas de ciência, vamos confundir as crianças com isso — apontou.

Para Omenn, o ensino do criacionismo impede que os alunos tenham uma educação adequada e vai prejudicar a economia americana.

ROBERTA JANSEN viajou a convite da Sociedade Americana para o Avanço da Ciência

Fonte:
http://oglobo.globo.com/jornal/ciencia/191926952.asp

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