22 fevereiro, 2006

Modelo educacional cubano erradicou analfabetismo na Venezuela e é usado no Brasil

21/02/2006 - 16h56m

Agência Brasil

Brasília - A Venezuela foi declarada pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), no ano passado, país livre do analfabetismo. O método de alfabetização utilizado (cubano) agora está sendo testado no Brasil num programa-piloto no Piauí. Para se ter uma idéia da extensão mundial da iniciativa, em Cuba, 99,5% das crianças de 0 a 6 anos estão na pré-escola, e o modelo já é usado em 17 países, entre eles Haiti, Argentina, México, Nicarágua, Bolívia, Equador e República Dominicana, onde foram alfabetizadas cerca de 1,5 milhão de pessoas.

- As aulas já estão sendo preparadas em 65 idiomas e contextos sociais diferentes. Esperamos que dê certo a aplicação desse programa-piloto no Piauí, para que ele possa ser estendido a maiores populações - afirma o representante da Embaixada de Cuba em São Paulo, Adolfo Bernardo Nuñez.

Segundo a Unesco, existem mais de 860 milhões de analfabetos no planeta e 98% estão no terceiro mundo. As estatísticas brasileiras mostram que 15 milhões de jovens e adultos não sabem ler e escrever, 32 milhões não concluíram o primeiro segmento do ensino fundamental e 79 milhões não terminaram o ensino fundamental. Para ser considerado alfabetizado pelo governo, é preciso concluir pelo menos o primeiro segmento do ensino fundamental.

- O analfabetismo funcional existe porque não conseguimos alcançar uma média escolar ideal de 15 anos - diz Ireland.

A experiência no Piauí tem ajudado trabalhadores rurais e domésticos a aprender a ler e escrever em 35 dias. Trata-se do método cubano de alfabetização "Yo sí puedo" (Sim, eu posso), implantado em outubro do ano passado nos municípios de Buriti dos Lopes, Caxingó e Murici dos Portelas, todos com altos índices de analfabetismo. Os alunos aprendem a ler e escrever pela associação entre números, letras e bichos. Cada letra é associada a um número e os alunos aprendem uma letra por dia. Também são utilizados vídeos metodológicos com programas que mostram as diferentes realidades do Brasil.

- O método faz com que a aula seja como uma telenovela - afirma o supervisor do programa de ensino de alfabetização no Piauí, o cubano Carlos Martinez.

Segundo ele, o projeto conta com a supervisão de um professor e de monitores. Os estudantes que participam da experiência são em geral trabalhadores rurais, pescadores e empregadas domésticas. A faixa etária dos alunos varia entre 15 e 70 anos, mas a maioria está entre os 35 e 50 anos. De acordo com Martinez, uma prova aplicada em 96 alunos dos três municípios mostrou a eficácia do projeto.

- Deste total, 100% aprenderam os números, a escrever os nomes e a ler e 88% já conseguem ler com qualidade semelhante aos alunos da primeira série. Mas o sucesso fundamental do projeto está em aprender a conhecer a diversidade da cultura do Brasil, a como atender a sua família, a prevenir doenças e cuidar do meio ambiente - conta o professor cubano.

No Piauí, o projeto prevê a alfabetização inicial de mil jovens e adultos dos três municípios. Ao final da etapa, o governo deve avaliar a possibilidade de expansão para todo o estado. O projeto de alfabetização cubana é mantido com recursos do governo do estado e do Programa Brasil Alfabetizado.

- Diversos prefeitos já manifestaram interesse, agora há um custo do projeto que precisa ser assumido e dividido entre as várias instâncias porque envolve equipamentos - explica o professor Antônio Sobrinho, funcionário da Unidade de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade da Secretaria de Educação do Piauí.

O secretário de Inclusão Educacional do Ministério da Educação, Timothy Ireland, destaca que o "Yo sí puedo" é apenas mais um dos métodos aplicados no país:

- Vai ser mais um dos usados dentro do Programa Brasil Alfabetizado, junto com outras metodologias que cada parceiro adota na sua prática de alfabetização. Não existe um método que vai resolver o problema do analfabetismo, mas vários que refletem as diferentes culturas regionais. Esse é mais uma opção

Fonte:
http://oglobo.globo.com/online/educacao/plantao/2006/02/21/191931431.asp

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