09 fevereiro, 2006

Crianças tratadas como objetos descartáveis

Rio, 09 de fevereiro de 2006

Maria Elisa Alves

Depressão pós-parto ou pobreza costumam ser as justificativas para uma atitude extrema, que tem sido cada vez mais freqüente: o abandono de um filho recém-nascido. Mas, para especialistas, a mãe que deixa um bebê ao relento e a que tenta matá-lo são desequilibradas. A psicanalista Eliana Helsinger diz que as mulheres envolvidas nesses crimes têm distúrbios psíquicos e tratam crianças como objetos descartáveis:

— Quando elas se livram do bebê num rio, é como se ele nunca tivesse existido — diz Eliana, que acredita que a pobreza em nada influencia o gesto das mães. — Se você não tem nada, você deixa o bebê num orfanato, não se livra dele simplesmente.

Para o pediatra Lauro Monteiro Filho, ex-presidente da Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção à Infância e Adolescência (Abrapia), os abandonos recentes não se assemelham aos casos de depressão pós-parto, quando as mães rejeitam os bebês por se sentirem, muitas vezes, incapazes de lidar com eles.

— Esses casos destroem o mito do amor materno. Entre adolescentes, é comum a rejeição pelo filho, um estorvo. Isso existe em todas as classes, a diferença é que, na média, há avós para cuidar de uma criança rejeitada. Antigamente, existia a roda dos expostos (lugar nas Santas Casas onde as mães deixavam anonimamente os filhos que não podiam criar). Hoje, a Justiça poderia assumir papel semelhante, fazer campanha dizendo que aceita filhos que as mães não querem. Há tantas famílias querendo adotar bebês.

Para o deputado Flávio Bolsonaro (PP), defensor do planejamento familiar, a situação econômica das mães pode influenciar suas decisões:

— Quando percebem que não vão conseguir sustentar mais um filho, desesperam-se. A culpa desses abandonos é também do poder público. O Rio só oferece dez laqueaduras por mês.

Para o prefeito Cesar Maia, que enfrentou polêmica quando pensou em distribuir anticoncepcionais pelos Correios, a discussão não é essa:

— Que relação pode haver entre uma assassina bárbara, uma mente desvirtuada e a prevenção da natalidade? Por minha experiência, em comunidades carentes, um bebê de mãe pobre sai do parto vestido como príncipe, princesa. Pensar em anticonceptivos tomando como base fatos bárbaros como esse é uma grave e perigosa distorção.

Fonte:
http://oglobo.globo.com/jornal/rio/191622585.asp

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