22 janeiro, 2011

Uma história para você conhecer

10 janeiro, 2011

Um antropólogo na berlinda



 “Todo ser humano é um antropólogo” (Roy Wagner). 




“[ ]... por mais que esses primeiros contatos sejam estremecidos por mal-entendidos, marcados por formalidades ou abrandados por cortesias, é necessário não obstante que ocorram, pois o mero fato de ser humano e esta num lugar [entre os objetos-humanos pesquisados] gera por si só certas dependências... E, ainda assim, o riso e a ternura que tão facilmente surgem nessas ocasiões jamais substituirão o companheirismo e a compreensão mais íntimos e profundos que são elementos tão importantes da vida em qualquer cultura. [ ]...Caso o bem-intencionado forasteiro, talvez sentido-se culpado pelos 'erros' que já cometeu, redobre seus esforços para estabelecer amizades, conseguirá apenas aumentar ainda mais suas dificuldades. [ ] ...essas frustrações iniciais tendem a se acumular, pois o padrão concernente à amizade com frequência se reproduz em muitos outros aspectos da vida social. Aos poucos, o pesquisador começa a sentir a efetividade de sua condição de pessoa diminuída, e é pouco consolo saber que as pessoas podem estar tentando 'agradar o estranho ou tornas sua vida mais fácil: mais vale uma incompreensão honesta do que uma amizade falsa. Mesmo o forasteiro mais tolerante e bem-intencionado, que se mantenha reservado e faça de tudo para não demonstrar sua frustração, acabará por achar extremamente desgastante a tensão de tentar preservar seus pensamente e expectativas e ao mesmo tempo 'respeitar' os da população local. Ele pode se sentir inadequado, ou talvez ache que seus ideiais de tolerância e relatividade acabaram por enredá-lo numa situação além de seu controle. Esse sentimento é conhecido pelos antropólogos como 'choque-cultural'. Nele, a 'cultura' local se manifesta ao antropólogo primeiramente por meio de sua própria inadequação;  contra o pano de fundo de seu novo ambiente, foi ele que se tornou 'visível'. Essa situação tem alguns paralelos em nossa sociedade: o calouro que entra na faculdade, o recruta no exército, qualquer pessoa que se veja na circunstância de ter de viver num ambiente 'novo' ou estranho há de experimentar um pouco desse tipo de “choque”. Tipicamente, a pessoa em questão fica deprimida e ansiosa, podendo fechar-se em si mesma ou agarrar qualquer oportunidade para se comunicar com os outros. [ ] ... Nosso sucesso e a efetividade de nossa condição de pessoas se baseiam nessa participação e na habilidade de manter a competência controladora na comunicação com os outros. O choque cultural é uma perda do eu em virtude da perda desses suportes. [ ]... Para o antropólogo em campo, porém, o problema é ao mesmo tempo mais urgente e mais duradouro. (A invenção da Cultura, páginas 33-34, Roy Wagner, São Paulo: Cosac Naify, 2010)




Estamos tão inseridos numa cultura que não nos damos conta que tudo isto que fazemos é uma invenção, e não quero dizer que a realidade é isto e blá, blá, blá...







Um referência  para o texto acima, me parece que tem tudo a ver com este link aqui: http://www.youtube.com/watch?v=PDa1Ek3LVlc  ou clique abaixo:





Textos que recebi esta semana:


  • Mãe convence filhos a ficar sem internet e conta experiência em livro

http://www.revistadigital.com.br/namidia.asp?CodMateria=5546


Parece o sujo falando do mal lavado, mas estou desde junho de 2010 sem ver televisão, e de lá até o dia 22 de novembro, não postei nenhuma foto no meu blog de fotos. Somente abro e-mails de um círculo muito pequeno de pessoas, em uma mão apenas conta-se. Não leio mais jornais impressos ou seus fac-similes piorados na internet. Dediquei-me nos últimos mêses a ler livros durante minhas insônias. Bati o recorde, de leituras e infelizmente das insônias.  O lado positivo é que atualizei-me com meus autores preferidos e alguns outros que não conhecia. A lista é grande. Um deles é do texto acima, de Roy Wagner. Fabuloso seu livro, foi uma dica de meu amigo livreiro lá da livraria do Palácio das Artes, Adilson. As indicações dos links acima vieram de um de meus contatos de e-mail e o outro da revisto eletrônica que leio, a  www.revistadigital.com.br. Não dá para deixar de lê-la, pois sempre tem bons textos. Tenho pelo menos o direito e dever de escolher o melhor para ler, então que escolhemos os bons.




Metade bugre, metade alemão

   No livro de Michelle Petit, “A arte de Ler”, tem uma frase de uma garota colombiana que exprime tudo aquilo que toda minha curiosidade me impõe, ela disse assim para sua professora:

“No céu eles lêem poesias, no inferno eles as explicam”.

                Acho que definitivamente não sou um sujeito com uma mente para fluir poesia, felizmente ou infelizmente, talvez os dois ao mesmo tempo. Minha mente é muito racional, deixando a fruição apenas para a música, já que esta me é totalmente estranha! Se realmente tenho que fazer uma escolha, escolheria as duas, mas se for somente uma, sinto que quero ir mesmo para o inferno e tentar explicar todas as coisas e também  todas as poesias que puder.  Desaprendi muito cedo,  agora me dou conta que sou metade bugre, metade alemão. Gosto de ir nos caminhos tortuosos pelo lado bugre, permaneço neles pela outra metade. Sou um “off-road”, agora sei fazer-me referência a mim mesmo graças a esta poesia de Manuel de Barros abaixo, será que estou deixando de ser bugre e alemão? Talvez me tornando uma pessoa melhor e tendo inspiração, afinal, dizem que 90% é transpiração e 10% inspiração. Chegou a vez da última. A seguir, um trecho do poema:


Mundo Pequeno

(do livro  "O Livro das Ignorãças", Manuel de Barros)


VI

Descobri aos 13 anos que o que me dava prazer nas
leituras não era a beleza das frases, mas a doença
delas.
Comuniquei ao Padre Ezequiel, um meu Preceptor,
esse gosto esquisito.
Eu pensava que fosse um sujeito escaleno.
- Gostar de fazer defeitos na frase é muito saudável,
o Padre me disse.
Ele fez um limpamento em meus receios.
O Padre falou ainda: Manoel, isso não é doença,
pode muito que você carregue para o resto da vida
um certo gosto por nadas...
E se riu.
Você não é de bugre? - ele continuou.
Que sim, eu respondi.
Veja que bugre só pega por desvios, não anda em
estradas -
Pois é nos desvios que encontra as melhores surpresas
e os ariticuns maduros.
Há que apenas saber errar bem o seu idioma.
Esse Padre Ezequiel foi o meu primeiro professor de
gramática.

08 janeiro, 2011

Réveillon 2010


Réveillon 2010
Originally uploaded by Haroldo Kennedy
Alguns dias antes do dia de réveillon, encontrei esta improvisação de uma barraca. Eram os sem-teto que vivem naquela praça. Receberam uma ajuda em comida e começaram a preparar a seia. O que me chamou a atenção especial foi a cor quente da fotografia naquele plástico, e ainda, era uma propaganda de réveillon, tento os nomes de várias cidades do mundo inteiro, misturando um pouco entre nomes de capitais e regiões geográficas. Note que naquela panela tem batatas a cozinhar...