10 janeiro, 2011

Metade bugre, metade alemão

   No livro de Michelle Petit, “A arte de Ler”, tem uma frase de uma garota colombiana que exprime tudo aquilo que toda minha curiosidade me impõe, ela disse assim para sua professora:

“No céu eles lêem poesias, no inferno eles as explicam”.

                Acho que definitivamente não sou um sujeito com uma mente para fluir poesia, felizmente ou infelizmente, talvez os dois ao mesmo tempo. Minha mente é muito racional, deixando a fruição apenas para a música, já que esta me é totalmente estranha! Se realmente tenho que fazer uma escolha, escolheria as duas, mas se for somente uma, sinto que quero ir mesmo para o inferno e tentar explicar todas as coisas e também  todas as poesias que puder.  Desaprendi muito cedo,  agora me dou conta que sou metade bugre, metade alemão. Gosto de ir nos caminhos tortuosos pelo lado bugre, permaneço neles pela outra metade. Sou um “off-road”, agora sei fazer-me referência a mim mesmo graças a esta poesia de Manuel de Barros abaixo, será que estou deixando de ser bugre e alemão? Talvez me tornando uma pessoa melhor e tendo inspiração, afinal, dizem que 90% é transpiração e 10% inspiração. Chegou a vez da última. A seguir, um trecho do poema:


Mundo Pequeno

(do livro  "O Livro das Ignorãças", Manuel de Barros)


VI

Descobri aos 13 anos que o que me dava prazer nas
leituras não era a beleza das frases, mas a doença
delas.
Comuniquei ao Padre Ezequiel, um meu Preceptor,
esse gosto esquisito.
Eu pensava que fosse um sujeito escaleno.
- Gostar de fazer defeitos na frase é muito saudável,
o Padre me disse.
Ele fez um limpamento em meus receios.
O Padre falou ainda: Manoel, isso não é doença,
pode muito que você carregue para o resto da vida
um certo gosto por nadas...
E se riu.
Você não é de bugre? - ele continuou.
Que sim, eu respondi.
Veja que bugre só pega por desvios, não anda em
estradas -
Pois é nos desvios que encontra as melhores surpresas
e os ariticuns maduros.
Há que apenas saber errar bem o seu idioma.
Esse Padre Ezequiel foi o meu primeiro professor de
gramática.

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