Jailton de Carvalho
BRASÍLIA. O presidente de Angola, José Eduardo Santos, criou uma comissão especial para investigar supostos vínculos entre o ministro das Finanças, José Pedro de Morais, o presidente do Banco Nacional, Amadeus de Jesus Castelhano, com o Trade Link Bank, off-shore com sede nas Ilhas Cayman. Na semana passada, O GLOBO revelou que o Trade Link fez, entre 2002 e este ano, 21 remessas no valor aproximado de US$ 2,7 milhões para Pedro Morais e Castelhano, a chamada Conexão Angola. O Trade Link está sendo investigado por lavagem de dinheiro no Brasil e nos EUA. — O governo angolano criou uma comissão de sindicância para averiguar essas contas. Eles vão ter que se explicar — diz Esmael Silva, cônsul de Angola no Rio. A comissão do governo angolano poderá se ver obrigada a ampliar a investigação para outros setores. Mais dois integrantes da equipe de Eduardo Santos aparecem na lista dos que fizeram transações com o Trade Link: a diretora de Contas do Ministério das Finanças, Joana da Fonseca Cordeiro, e o secretário do Conselho de Ministros Angolanos, Antônio Van Dunem. Transferência, em duas parcelas, de US$ 130 mil Pelos papéis oficiais, o Trade transferiu, em duas parcelas, US$ 130 mil para Joana. Em 22 de outubro de 2004, a off-shore remeteu US$ 50 mil para a diretora. O dinheiro saiu de uma conta do Trade no Banco Wachovia, em Nova York, passou pelo Deutsche Bank Trust, ainda nos EUA, e caiu numa conta em nome de Joana, no Banco Fomento de Angola, em Luanda. Em 3 de fevereiro deste ano, US$ 80 mil saíram do Trade e percorreram o mesmo caminho. Van Dunem fez uma transação de US$ 59,8 mil com o Trade. Não está claro se enviou ou recebeu o dinheiro. O Trade Link fez de outubro de 2004 e maio de 2005 sete remessas, no valor de US$ 1,6 milhão, para o presidente do Banco Nacional, Amadeu Castelhano. Semana passada, o embaixador de Angola no Brasil, Alberto Correia Neto, divulgara nota afirmando que as transações de Morais e Castelhano são relativas à negócios imobiliários, sem especificar quais. Laudo da Polícia Federal informa que o Trade Link foi usado pelo empresário Marcos Valério de Souza para fazer repasses de U$ 900 mil para a Dusseldorf, off-shore de Duda Mendonça, publicitário da campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2002. O Trade Link tem vínculos com o Banco Rural, ligado a Valério no esquema do caixa dois do PT. Os investigadores querem saber se existe relação entre a Conexão Angola e os negócios de grandes empresas brasileiras em território angolano. Na sexta-feira, O GLOBO tentou falar com Holton Gomes Brandão, apontado pela Polícia Federal como um dos controladores do Trade. Mas ele desligou o telefone. Em depoimento à PF em setembro, Brandão negou relação com o Trade Link.
Fonte:
http://oglobo.globo.com/jornal/pais/189246981.asp
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