21 novembro, 2005

Desagradar os outros faz parte do jogo da liderança

17/11/2005


Para o professor de Harvard, Marty Linsky, o líder não pode ser bem visto pelas pessoas da professor de Harvard, Marty Linskyorganização o tempo todo. Frustrá-las, falar aquilo que ninguém quer ouvir e tomar atitudes pouco populares, segundo ele, são comportamentos que fazem parte da validação do exercício da liderança. "Se você não gerar resistência e críticas provavelmente não estará liderando de fato", diz. Linsky esteve recentemente no Brasil para o lançamento da Cambridge Leadership Associates (CLA), consultoria especializada em liderança, da qual é sócio-fundador.




Autor do livro Liderança no Fio da Navalha , Linsky tem grande experiência como consultor em questões relacionadas à liderança, ética, relações públicas e políticas, tendo atendido clientes Liderança No Fio Da Navalhatanto do setor público como privado. Ele foi secretário-chefe e conselheiro do governador do estado de Massachusetts (EUA), entre 1993 e 1995. Em Harvard, Linsky ensina liderança, imprensa, legislação, política e administração pública, dentro e fora dos EUA. De Nova York, ele concedeu esta entrevista, onde falou sobre os desafios dos líderes contemporâneos nas companhias e nos governos.





A seguir, os principais trechos dela: Em seus estudos, o Sr. diz que os líderes devem pressionar os funcionários para obter melhores resultados. Em um momento onde as companhias procuram pessoas mais criativas para obter um diferencial competitivo, essa pressão é saudável?

Marty Linsky Isso depende do tipo de pressão a que você se refere. Nossa experiência mostra que as companhias interessadas em desenvolver uma cultura de liderança precisam encorajar as pessoas a correrem riscos e até a usar os limites da autoridade para isso. O que sempre acontece é que as companhias falam sobre encorajar suas pessoas a se arriscarem e quando elas fazem isso acabam sendo punidas [grifo meu, hk]. A questão é desafia-las a experimentar, a serem criativas e recompensa-las mesmo quando elas não forem bem sucedidas. É fazer com que esta experiência seja uma oportunidade de aprendizado para a empresa. O Sr. fala muito sobre o líder que centraliza decisões, protege os seus, dá ordens. Essa descrição corresponde a um modelo de liderança tradicional.

O Sr. acredita que ele é mais eficaz do que o modelo mais participativo praticado hoje?

Linsky Nós não pensamos que exista realmente essa figura do líder. Acreditamos que a liderança é um comportamento, é algo que as pessoas exercem de qualquer lugar da organização. Na maioria das companhias com as quais trabalhamos o maior desafio de liderança para as pessoas é exercê-la com quem está acima delas. Elas devem estar aptas para levantar questões difíceis com as pessoas para as quais trabalham. O maior desafio não está no topo da organização, mas no tipo de atmosfera que é gerado por toda a companhia [grifo meu, hk].

Como é possível ajudar o líder acima de você?

Linsky Existe um ideal de liderança que não combina muito com a vida na organização contemporânea. Como a idéia de que as pessoas do topo são as que supostamente exercem a liderança. O que acontece na organização é que as pessoas de cima, de sua posição privilegiada, têm medo de aceitar riscos. E as outras pessoas não o fazem porque temem incomodar quem está acima delas [grifo meu, hk] . Na minha perspectiva, liderança não é algo captado através de uma posição, de um grande emprego. Liderança é estar disposto a aceitar riscos e se comprometer com o que realmente se importa.

Muitas vezes quem comanda se torna um receptor da frustração, da raiva e insatisfação das pessoas da organização. Que preparo emocional o líder deve ter para aguentar situações assim?

Linsky Um dos comportamentos importantes associados ao exercício da liderança, na nossa visão, é a capacidade de aguentar a resistência e as críticas dos outros. Uma das razões para as pessoas não exercerem muito a liderança é que quase tudo gera uma consequência. As pessoas passam muito tempo agradando a todos. Uma das coisas que nós sempre trabalhamos com autoridades seniores nas organizações é como elas podem desenvolver sua capacidade de antecipar a reação ao que elas enfrentarão, à resistência. Se elas quiserem exercitar a liderança terão que desenvolver sua capacidade de tolerância. Nós argumentamos que existe apenas um caminho para ver se você está exercendo a liderança, que é gerando resistência.

É isso que o Sr. quer dizer quando fala em colocar o elefante sobre a mesa?

Linsky É falar sobre coisas que as pessoas não querem falar. Se você fizer isso acabará não sendo tão popular. Elas irão criticar você. Por isso, é importante desenvolver a capacidade de antecipar e aguentar a crítica. Saber lidar com isso é fundamental na liderança.

Quais situações exigem uma maior flexibilidade do líder?

Linsky Nossa experiência mostrou que o tipo de problema que requer um maior exercício de liderança é aquele que envolve os valores e as crenças das pessoas. O erro mais comum que os líderes cometem é tentar ver o que chamamos de desafios adaptativo como se fossem problemas técnicos. Como se sempre fosse possível encontrar uma solução técnica. Na realidade, os problemas que envolvem os valores das pessoas são muito mais difíceis de encarar e exigem que você aja de um jeito diferente.

O Sr. já participou do governo americano e acompanhou de perto vários líderes políticos. Como analisa a liderança do presidente Lula?

Linsky Eu não conheço tanto para comentar. Estive uma vez no Brasil e estou animado com o desenvolvimento e crescimento da economia brasileira. Acho que existem grandes questões para se enfrentar no país, assim como nos Estados Unidos.

Então, vamos mudar a questão. Quais os maiores desafios da liderança política?

Linsky Na nossa experiência o desafio adaptativo enfrentado no governo é diferente do encarado no setor privado. O conteúdo e a dinâmica são diferentes. Mas a natureza de uma mudança não é diferente quando você está tentando mudar a cultura, as normas e os valores da organização. Você encontra o mesmo tipo de resistência no setor privado, público ou no sem fins lucrativos. Apesar de terem dificuldades específicas de conteúdo o tipo de mudança de processo é o mesmo nos três setores.

Autor: Stela Campos Email do Autor: n.d.


Fonte:
http://www.revistadigital.com.br/tendencias.asp?CodMateria=2938


Comentário:

Veja meu artigo neste blog: "Erros e fraudes".

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