24 novembro, 2005

Efeitos da crise só serão sentidos em 2007, dizem economistas

Denize Bacoccinade Washington


Brasil está no olho do furacão ainda!

Vitória de Lula não assustaria porque 'tabu' já foi quebrado

Os efeitos da atual instabilidade política no fluxo de investimentos estrangeiros no Brasil só poderão ser sentidos em 2007, na avaliação de economistas consultados pela BBC Brasil.


"A eleição não está tendo nenhuma influência agora e nem deve ter em 2006. A influência é sobre 2007", diz Paulo Vieira da Cunha, economista-chefe para América Latina do HSBC, em Nova York.
Ele diz que a discussão que está sendo travada agora sobre a permanência ou não do ministro da Fazenda, Antonio Palocci, e do nível ideal do superávit primário, influi pouco na decisão dos investidores estrangeiros, porque não altera fundamentalmente a política macroeconômica.
"A conseqüência virá em 2007 por causa das reformas que deveriam ter sido feitas neste ano e não foram, como a do sistema tributário e a reforma fiscal", avalia Vieira da Cunha.
Ele diz que os efeitos não serão sentidos no próximo ano porque demora um tempo para que estas medidas tenham efeito. "É provável que 2007 comece com uma incerteza e uma dificuldade em aprovar medidas fiscais difíceis", avalia.
Sem Palocci
O economista acha que o cenário não depende de quem for vitorioso nas eleições do ano que vem, mas diz que a situação pode ser pior com a reeleição do presidente Lula.
"Principalmente se for sem o ministro Palocci", afirma. "A perspectiva mais negativa é de um segundo governo Lula sem o ministro Palocci, mas ainda não se sabe se isso vai acontecer ou mesmo se Lula vai ser reeleito."
O economista Nuno Camara, responsável pela área da América Latina do banco de investimentos Dresdner Kleinwort Wasserstein (DRKW), em Nova York, diz que até agora a influência das eleições foi nula.
"Com todo este imbróglio político, ficou bem claro que, para o investidor, tanto no mercado financeiro como na economia real, apesar de todo o ruído político, as instituições permanecem bem fortes", afirmou ele.
Camara acha que a percepção só seria alterada se houvesse uma mudança grande na política macroeconômica, mas que não se vislumbra este cenário. Ele também diz que não notou uma tendência de segurar investimentos por causa do ano eleitoral. "O grande tabu já foi quebrado quando o PT ganhou as eleições de 2002", diz.
Ele projeta um crescimento de 3,5% da economia brasileira em 2006, e vê possibilidade de uma revisão para cima.
"Estamos diante de um período de crescimento sustentado", afirma.
O HSBC revisou para 3,2% a estimativa de 2006, que antes era de 3,4%.
Imagem política
O consultor Isaac Cohen, da consultoria Inverway, de atuação na América Latina, diz que a imagem da economia brasileira no exterior é muito boa.
"O problema é a imagem política, que pode ser afetada pelos escândalos envolvendo membros do governo", afirma. "Mas o trabalho na economia é tão bom que, se a eleição fosse hoje não haveria impacto nenhum", diz Cohen.
Ele diz, no entanto, que o calendário eleitoral pode afetar a disposição dos investidores em iniciar novos projetos. "Em ano de eleição os investidores sempre esperam um pouco para definir novos investimentos", afirma.
O relatório de perspectivas para a economia mundial do Banco Mundial também destaca as eleições como fator de incerteza para o crescimento de médio prazo no Brasil.
"Embora algum aumento nos gastos no período pré-eleitoral deve ser observado, o risco do ciclo político é que poucas reformas estruturais devem ser iniciadas ou concluídas nesses países até que as eleições sejam concluídas", afirma o relatório.

Fonte:
http://www.bbc.co.uk/portuguese/reporterbbc/story/2005/11/051124_denizeleicoescg.shtml

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