07 março, 2006

Sem banheiros públicos, centro vira latrina a céu aberto

06/03/2006 - 19h00m

Fabiana Parajara - Globo Online

SÃO PAULO - Na maior cidade de país, onde 100% da água é tratada e 78% das residências têm coleta de esgoto, faltam banheiros públicos, principalmente na região central. Trechos de ruas e praças acabam sendo usados como latrinas a céu aberto e o cheiro de urina e fezes é insuportável. Basta andar pela região para constatar o problema. Bem na frente do Theatro Municipal, na Praça Ramos de Azevedo, uma passagem subterrânea desativada que leva ao outro lado da Rua Xavier de Toledo, exala mau cheiro dia e noite. Na Praça da Sé, perto do posto do Poupatempo mais movimentado de São Paulo, o cheiro de urina se mistura a fezes. Nas escadarias de viadutos, como o do Chá e o Nove de Julho, é quase impossível passar por causa do mau cheiro.

Nada que alguns banheiros públicos estrategicamente instalados pelo centro não poderiam resolver. De acordo com a Empresa Municipal de Urbanização (Emurb), a cidade tem apenas seis deles e todos estão fechados. Ficam na Praça da República, no Largo do Paissandu, na Rua Galvão Bueno do bairro da Liberdade, no Largo da Concórdia, no Bixiga (Praça Dom Orione) e no Vale do Anhangabaú. Todos foram fechados por causa da violência e dos altos custos de manutenção, como material de limpeza e a presença de funcionários e policiais 24 horas por dia. Apenas o banheiro do Anhangabaú tem utilidade. Ele passou a fazer parte de uma base da Guarda Municipal e é usado apenas pelos guardas.

Resultado: da Praça da Sé até o Largo do Paissandu, a população conta apenas com um banheiro público. Fica na Praça Fernando Costa, na região da Rua 25 de Março. Por causa do total abandono pelo poder público, que não cuida do local, o banheiro foi 'privatizado' por quatro pessoas que se revezam na limpeza e cobram R$ 0,50 pelo uso. Pelo menos, é tudo limpo e bem cuidado.

- Só não tem luz porque a Prefeitura não coloca - afirma Dinalva Severina Santiago, uma das pessoas que cuidam do local.

De acordo com Dinalva, os banheiros foram construídos pela Prefeitura, mas estavam abandonados desde 1998, quando o grupo passou a cuidar do banheiro e tirar dele o seu sustento. Segundo Dinalva, é possível arrecadar entre R$ 350 e R$ 400 por mês.

- Varia de acordo com o material que gastamos - explica.

Os quatro compram papel higiênico e material de limpeza para o local. Os camelôs que trabalham na praça são os principais beneficiários.

- É melhor pagar os R$ 0,50 do que ir até o terminal (D. Pedro), que é longe e sujo. Não é caro. Se deixar por conta da prefeitura, vai ficar tudo sujo - diz Maria Amélia Mota, que tem uma banca de sapatos no local.

Até os seguranças do terminal, que preferiram não se identificar, acabam optando pelo banheiro privatizado. De acordo com eles, o do terminal "não dá para usar". A presença desse banheiro não impede que algumas travessas da região sejam usadas moradores de rua, o que provoca mau cheiro em praticamente toda a área.

- Varredores de rua passam sempre, mas eles não lavam com freqüência as ruas. Por isso, fica esse cheiro de urina - diz Maria Amélia.

Na Praça da Sé, o jornaleiro Rafael de Souza e Silva diz que o problema se repete.

- Banheiro público é um problema sério por aqui. As pessoas têm de usar nos bares e lojas. Só que tem muita má vontade ali (nas lojas). Eles só deixam os clientes usarem. Só se consumir - afirma.

- O problema mesmo é perto da fonte, onde dorme muita gente. Ali está abandonado. As pessoas fazem todas as necessidades na rua - diz Silva. Por lá, o mau cheiro chega a embrulhar o estômago.

De acordo com ele, todas as noites a Prefeitura lava a região, mas não joga desinfetante. Logo, o cheiro não acaba.

- Só na época da Luiza Erundina é que jogavam um bom desinfetante por aqui e que tudo ficava limpo. Só água não resolve - diz, acrescentando que a manutenção da praça é toda malfeita.

Várias tampas de bueiros e galerias pluviais foram roubadas ou quebradas e não estão sendo repostas. Os buracos ficam abertos provocando tropeções e, pior, tombos.

Em frente à própria Prefeitura da capital, o cheiro não é melhor. Pela Praça do Patriarca e no Viaduto do Chá, sentido Praça Ramos de Azevedo, só narizes entupidos se livram do cheiro de urina.

- Há duas semanas, depois de muito pedir à Prefeitura, eles começaram a lavar as calçadas todos os dias pela manhã. Sem querer defender a ex-prefeita Marta Suplicy, a limpeza naquela época era feita duas vezes por dia. Depois, a lavagem deixou de ser periódica - afirma Emanuele Xavier de Freitas, que há dois anos trabalha em uma banca de jornal na frente da Prefeitura.

- Muitos moradores de rua dormem nas marquises dos prédios e é preciso limpar a rua diariamente. Não dá para acostumar com o cheiro - afirma ela.

Mas quem sai da Prefeitura rumo ao Largo do Paissandu, acaba se acostumando. As bordas do viaduto e as escadarias que levam à Praça Ramos e à Rua Formosa estão aparentemente limpas, porque a varrição é feita. Mas não precisa chegar muito perto para sentir o cheiro de urina.

Apesar tendo dois banheiros públicos, o Largo do Paissandu vive o mesmo drama. De acordo com a assessoria de imprensa da Emurb, os dois banheiros funcionaram por pouco tempo por causa de assaltos e outros casos de violência ocorridos lá dentro. A população que freqüenta o largo agora sofre de outro mau.

- O cheiro é terrível e temos de insistir muito para aparecer algum caminhão-pipa. De manhã, quando chegamos, a primeira coisa a fazer é jogar água com desinfetante ao redor da banca - diz Goreti Morim, que há 15 anos tem uma banca de flores ao lado da igreja do largo.

- A gente pensou que com a revitalização, a reabertura da Galeria Olido, ia melhorar, mas piorou. Tem ainda mais morador de rua por aqui. Só quando a polícia passa um tempo por aqui é que a coisa melhora, fica mais limpo. A prefeitura podia pelo menos mandar lavar todas as manhãs - afirma Goreti.

A Emurb afirma que na licitação que prepara para mobiliário público (totens, relógios de rua são exemplos de mobiliário público) está prevista a construção de novos banheiros. Mas eles devem fazer parte de áreas de concessão, como bares e cafés em praças, e deverão ser administrados pelos concessionários, que serão escolhidos em uma segunda etapa de licitação.


Fonte:
http://oglobo.globo.com/online/sp/plantao/2006/03/06/192171028.asp


Comentário:

Se esta matéria tivesse sido feita durante a
administração da Erundina, ou hoje, a capital paulista fosse administrada pelo
PT, diriam que a sujeira era fruto da administração petista. Sujeira digasse de
passagem e desculpem o trocadilho, acontece independente da sigla do partido, e
não depende da cor da pessoa, da roupa que usa, classe social, é uma questão de
onde ESCOLHEMOS fazer. Escolher fazer sujeira em local público é o pior das
maselas, é melhor privatizar os banheiros públicos, pois já está provado que as
privadas cuidam melhor do que tem de pior de todos os resíduos humanos.

Nenhum comentário: