09 março, 2006

Dúvidas sobre as vacinas

08/03/2006 - 18h09m

Mesmo raros, há casos em que a vacina
causa o mal que deveria combater

Cláudia Miranda - Globo Online

RIO - Criado em 1997, o Institute for Vaccine Safety, que faz parte da Universidade de Saúde Pública Bloomberg John Hopkins, em Baltimore, tornou-se centro de referência mundial para tudo o que diz respeito à vacinação. Seu objetivo é reunir e disseminar informações e pesquisas que mostrem quais os benefícios e riscos das vacinas para a população. Diretor do instituto e professor de Saúde Internacional e Pediatria da Universidade de Jonh Hopkins, o pediatra e infectolgista Neal A. Halsey afirma que todos no mundo devem ter acesso a tudo o que se refere aos imunizantes, sejam seus benefícios ou seus efeitos colaterais. Em entrevista exclusiva ao Globo Online, ele desfaz mitos e esclarece as dúvidas mais comuns sobre o assunto.

Existe risco de a vacina provocar a doença contra a qual deveria nos proteger?

Muito raramente. Algumas vacinas com vírus vivo podem fazer isso. Por exemplo, a vacina oral contra pólio pode provocar paralisia. Mas a chance disso acontecer é mil vezes menor do que a possibilidade de a criança contrair pólio caso não seja vacinada. Uma reação similar pode ocorrer com a vacina da febre amarela, mas a probabilidade de a pessoa ter a doença é 100 mil vezes maior se ela não for vacinada. Outras vacinas, como a que protege contra a rubéola, podem provocar febre em cerca de 5% a 15% das crianças imunizdas.

Muitas mães na Inglaterra temem vacinar seus filhos com a Tríplice Viral porque acreditam que o imunizante provoca autismo. Isso pode acontecer?

Não. Estudos minuciosos sobre esse assunto já foram feitos nos Estados Unidos, na Inglaterra e na Dinamarca. Está comprovado que não há nenhum risco de a criança contrair a doença. Mais detalhes sobre os estudos feitos pelo Instituto de Medicina americano e pela Sociedade Americana de Pediatria estão disponíveis no nosso site ( www.vaccinesafety.edu ).

Da mesma forma, muitas pessoas acreditam que a vacina contra hepatite pode provocar esclerose múltipla. Isso é verdade?

Não. Vários estudos disponíveis no nosso site mostram que não há correlação entre a doença e a vacina. Esse problema surgiu porque na França, coincidentemente, algumas pessoas desenvolveram esclerose múltipla logo depois de se vacinarem. Mas foi um fato isolado.

Alguma vacina pode causar morte súbita em bebês?

Isso nunca aconteceu. Existem relatos raros de reações alérgicas graves, horas depois da vacinação.

Casos como o da vacina Rota-Shield podem se repetir? (Trata-se do primeiro imunizante criado contra o rotavírus que causou constipação grave em algumas crianças vacinadas, levando muitas delas à morte. O medicamento foi retirado do mercado.)

Essa séria complicação não foi descoberta antes de a vacina ser licenciada porque nenhuma criança que participou dos testes apresentou o problema. Casos semelhantes podem acontecer com qualquer vacina nova que comece a ser utilizada em larga escala. Por isso, é importante monitorar a reação da população ao imunizante, após seu lançamento no mercado.

Alguns relatos sugerem um aumento de doenças auto-imunes na população vacinada. Esse risco é real?

Em 1976, houve relatos nos Estados Unidos de aumento de casos de síndrome de Guillain Barre, que provoca paralisia temporária, após uma campanha de vacinação contra influenza (gripe) provocada por suínos. Mais tarde, estudos sugeriram que uma entre mil pessoas imunizadas contra uma gripe comum entre 1992 e 1994 também apresentou a síndrome. Mas isso não voltou a se repetir e nada foi comprovado. Parece também que a vacina anti-rábica contém uma forma alterada de albumina que causa artrite temporária numa pequena parcela de pessoas imunizadas. Esse é um problema potencial para veterinários e para quem precisa tomar a vacina por anos a fio. Mas é óbvio que não compensa evitar a vacina e correr o risco de contrair uma doença grave como a raiva.

Existe alguma vacina que é contra-indicada pelo Instituto?

Existem vacinas que a gente não recomenda como rotina nem para crianças nem para adultos. Um exemplo é a que protege contra varíola, que costumamos indicar principalmente para as pessoas que manipulam o vírus em laboratório. Como esse vírus pode ser usado por bioterroristas, muitos governos também estão imunizando militares em região de conflito.

Fonte:
http://oglobo.globo.com/especiais/vivermelhor/mat/192192484.asp

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