29 março, 2006

Blindagem no BC


Sergio Fadul e Regina Alvarez


BRASÍLIA


A saída encontrada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva para tranqüilizar os mercados e evitar atritos com o novo ministro da Fazenda, Guido Mantega, foi reforçar a blindagem e a independência do Banco Central (BC). Numa conversa ontem de manhã com o presidente do BC, Henrique Meirelles, Lula deixou claro que não haverá intermediários entre os dois. Ao pedir que permanecesse no cargo, o presidente garantiu a Meirelles peso político no governo, preservação da autonomia do BC e manutenção da orientação para a política econômica. Ficou definida uma linha divisória entre Fazenda e BC: não há mais relação de subordinação entre ambos.



— Estive com o presidente da República, que reafirmou a autonomia do BC e, mais uma vez, a possibilidade de exercer a nossa função. O trabalho segue normalmente — disse Meirelles, na cerimônia de posse de Mantega.



Uma das grandes preocupações do mercado e de analistas sobre os rumos da economia sem Antonio Palocci eram as críticas públicas e notórias do novo ministro da Fazenda à condução da política monetária. Outro temor era a possibilidade de debandada da equipe do BC, temendo-se interferências nas suas decisões.



Satisfeito com o que ouviu de Lula, Meirelles confidenciou a interlocutores que vai agora assumir plenamente a posição de ministro de Estado. O cargo de presidente do BC passou a ter status de ministro em agosto de 2004 com a edição da medida provisória 207. Sua vinculação passou a ser com a Presidência da República e não mais com a Fazenda.



Mas, com a afinidade que tinha com Palocci e o papel de fiador do ex-ministro, Meirelles nunca fizera uso formal dessa prerrogativa nem havia sido estimulado a fazê-lo. Ele recorria a Palocci para fazer o meio de campo com Lula e os demais ministros.



Com a mudança no comando da Fazenda, esse vínculo deixou de existir e a relação do presidente do BC com o Palácio do Planalto será direta. Publicamente, Meirelles procurou mostrar ontem que pretende ter um convívio pacífico com o novo ministro da Fazenda. Perguntado como havia recebido a escolha de Mantega, disse que é um prazer tê-lo de novo como colega no Conselho Monetário Nacional (CMN):



— Fomos colegas de trabalho e vamos voltar a ser colegas. A experiência que tivemos foi muito positiva quando ele esteve no Planejamento.



Mantega também adotou um discurso mais ameno e conciliador ao se referir à relação que pretende ter com o BC e seu presidente.



— Estamos em sintonia. Se houve alguma desavença no passado, foi profissional, nunca discutimos pessoalmente. E mesmo essas desavenças profissionais que posso ter tido com membros do BC, quando acreditava que os juros deviam cair, já foram sanadas, pois os juros já estão nessa rota — disse o ministro.



Mais cedo, no entanto, durante entrevista no “Bom Dia, Brasil”, da TV Globo, Mantega dissera:



— O Brasil tem que ter taxas de juros mais civilizadas, que permitam estimular a produção e o consumo. A inflação estando sob controle, não há nada que impeça a queda das taxas de juros. O BC tem autonomia, dada pelo presidente. Vamos respeitá-la, e vamos dialogar.



‘Papel do banco não está em discussão’



Nos bastidores, a avaliação é de que Mantega não tem nem terá o peso de Palocci no comando da economia, por isso o canal de comunicação no governo terá que ser feito diretamente com o presidente Lula.



— Meirelles fica. É ministro e o presidente confia no trabalho dele. O papel do BC não está em discussão. Há todo um reconhecimento do trabalho que o BC está fazendo — disse o líder do governo do Senado, senador Aloizio Mercadante (PT-SP).



O discurso de que a autonomia do BC seria mantida e reforçada foi repetido por outros ministros presentes à cerimônia, entre eles Ciro Gomes, da Integração Nacional.



Mesmo sendo fixados limites de atuação do ministro da Fazenda e do presidente do BC, o risco de conflitos entre os dois não é descartado. O BC tem adotado uma posição conservadora em relação à queda das taxas, indicando redução lenta e gradual. No banco, a avaliação é que Mantega não participa do Copom e, portanto, não influencia as decisões. Mas o novo ministro é muito próximo de Lula e deve se valer disso para convencê-lo de suas posições sobre juros.



COLABOROU Cristiane Jungblut



Fonte:
http://oglobo.globo.com/jornal/economia/246617470.asp


Comentário:

Uma ótima medida para nós brasileiros, tal como na Alemanha, a independência do Banco Central do Governo é total. Inclusive lá, a eleição do presidente da instituição é feita na metade do mandato do primeiro-ministro, deixando sempre um presidente do Banco sendo eleito no mandato anterior. Só falta isto aqui. Manda ver Lula. Deixa estes idiotas do PSDB de cabelo em pé, já que eles não querem apurar nada e somente atrapalhar o programa de estabilização econômica.

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