14 março, 2006

Rodrigues admite que perdeu briga com Marina Silva sobre transgênicos

14/03/2006 - 12h00m

Eliane Oliveira - O Globo
Globo Online

BRASÍLIA - O ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, reconheceu nesta terça-feira que foi derrotado na disputa com a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, em relação aos produtos transgênicos.

- Embora eu seja uma pessoa extremamente disciplinada, não posso deixar de admitir que nesse caso fui derrotado - admitiu o ministro, referindo-se à briga com a ministra.

O desabafo de Rodrigues leva em conta a posição que o governo brasileiro levará à Terceira reunião das Partes do Protocolo de Cartagena, em Curitiba. A decisão do governo foi tomada nessa segunda-feira em uma reunião da qual participaram Marina Silva, a ministra chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

A nova posição do Brasil sobre a identificação de cargas transgênicas para o comércio exterior é de que em quatro anos o material deve ser rotulado com o termo "contém transgênicos". O agronegócio e a indústria queriam que fosse usada a expressão "pode conter transgênicos".

A grande diferença entre os dois termos se refere a quem recai a responsabilidade de determinar se há ou não organismos transgênicos nos produtos. Com o "contém transgênicos", os exportadores brasileiros terão que arcar com os custos para bancar essa informação. No "pode conter", a palavra final ficaria por conta dos importadores.

Em entrevista ao programa Roda Viva nessa segunda-feira, a ministra Marina Silva citou estudos que mostram a possibilidade de esse custo ser de entre 10% a 30% da produção, embora tenha ressaltado que não há um cálculo certo sobre a questão.

A ministra considerou a decisão do governo um "grande avanço" e disse que a medida passa a valer imediatamente. Na prática, a mudança pode levar ainda algum tempo, já que haverá um período de transição de quatro anos. Marina Silva disse que essa será uma mudança "gradual e cumulativa" e que é preciso tempo para que se construa a logística necessária para atender à determinação. As exportadoras deverão, por exemplo, ter contêineres específicos para produtos com organismos transgênicos, o que não pode ser feito "da noite para o dia", diz ela.

A ministra considera que a medida é economicamente interessante para o país pois permitirá que o Brasil lucre exportando tanto produtos com organismos geneticamente modificados quanto aqueles livres de transgênicos. Marina Silva lembra que há mercados diferentes para os dois tipos de mercadoria. No caso da soja, por exemplo, há ganho de escala na produção com espécies geneticamente modificadas, mas paga-se mais caro pela mercadoria livre de organismos geneticamente modificados.

Fonte:
http://oglobo.globo.com/online/ciencia/plantao/2006/03/14/192258491.asp

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