17 março, 2006

Não me deixo mais desapontar

Se você escrever sobre algo, e se este texto que escrever manter-se íntegro
durante alguns ou dezenas de anos, a chance de algo semelhante do que escreveu
acontecer deverá ser aumentada. (H K).


Era agosto de 2001, eu estava fazendo 3 matérias na PUC à noite e uma delas era Resistência dos Materiais. Gosto desta disciplina pois ela envolve também a História da Ciência, pois é com o acúmulo de conhecimento e a documentação deles que se podem melhorar as técnicas de construção, os materiais e as próprias construções humanas. Como eu sou uma pessoa que se entusiasma muito por muito pouco, o minha tagarelice a partir disto também cresce proporcionalmente. Quando se fala muito, a chance de algo que se falou ser retido diminui também drasticamente, a não ser que você tenha uma conversa profunda com UMA pessoa somente que também lhe proporcione um retorno. Naquele dias de julho de 2001, e numa das noites tive um sonho estranho. Sonhei com um avião que caía num ângulo de 45o graus. Não era uma queda normal. Ela obedecia a um ângulo estranho, e mesmo sendo um sonho, pois neles tudo o que é mais absurdo pode acontecer nele. Na queda do avião outra coisa acontecia, a minha visualização de toda a cena, era porque também eu estava caindo ao lado dele, mais comigo estavam um comando de pára-quedistas, que tentava passar um cabo na fuselagem do avião para que evitasse a queda. Não me lembro do final tão bem como me lembro da cena anterior, mas certamente o pouco que me resta na memória não me deixa dúvidas que eles não conseguiram. Poderia ser um sonho qualquer, mas fiquei pensando nele constantemente, e num dia de domingo, eu estava fazendo horas-extras com uma colega de serviço, a Juliana. Acabado o serviço, subimos a rua que nos leva ao ponto de ônibus, na Av. Francisco Sales, no início do viaduto que dá acesso ao bairro Santa Efigênia. Subindo o morro para chegar no ponto de ônibus, comentava com ela o que me passava pela cabeça, misturando um pouco do sonho que tive e raciocínios sobre a matéria que estava fazendo naquele semestre, Resistência dos Materiais. Tentava explicar para ela o estrago que um avião faria caso batesse em algo, e visualizando o extenso comprimento do viaduto, até sugeri que naquele espaço aberto poderia ser usado para um pouso forçado de uma aeronave, desde que não fosse tão grande. Desde a noite do sonho do avião fiquei muito apreensivo naqueles dias. E exatamente numa noite de segunda-feira, fiquei tão angustiado, que resolvi ir à casa de um amigo meu, que fica no mesmo bairro da Sagrada Família. Fui até lá, mas quando cheguei na frente do prédio e para tocar o interfone, perguntei para mim mesmo, o que iria dizer a ele? Diria que estava simplesmente angustiado por uma sensação estranha vinda de um sonho? Acho que daria mais motivos para que ele achasse que estava mais do que simplesmente angustiado, que estaria ‘pirando’. Resolvi consultar o que chamamos de ‘consciência’, e o que também posso dizer é que ouvi ‘dela’ uma resposta sobre a minha angústia: “espera até amanhã de manhã’.
Sendo uma pessoa racional, eu diria que é uma resposta óbvia para qualquer dúvida que uma pessoa pode ter na vida, pois é sempre bom tomar decisões num dia de manhã. Mas acontece que eu não estava para tomar decisão alguma, NADA na minha vida pessoal estava para ser decidido. Deixei então de tocar o interfone deste meu amigo e fui para casa. Dormi e não tive nenhum outro sonho estranho. No outro dia fui para o serviço, como de costume, era terça-feira, 11 de setembro de 2001.
Depois que isto aconteceu, nunca mais deixei de acreditar no que sentia. Caso sinta algo que me faz lembrar de alguém, não tenho dúvidas, ligo. Não tenho me deixado desapontar em não me comunicar mais com os interessados.


haroldo kennedy, 17 março 2006

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