12 dezembro, 2005

O segundo "Renascentismo"



No "Renascimento", período de grande "produção" científica e cultural, muitos nobres se tornavam mecenas (custeavam a família do pintor e suas obras), e para a retribuição da "caridade", estes artistas "retratavam" suas amantes, suas mulheres, filhas, sobrinhos e até os rostos dos próprios mecenas. De tanto mesmice, muitos já estavam "cansados" (cansados de serem 'Narcisos'), de verem os mesmos quadros e os mesmos temas... Foi então que começaram a "retratar" a vida das pessoas comuns (povo). Foi desta maneira de tentar ser diferente que hoje podemos ver pinturas de famosos pintores, mostrando como eram as vidas de gente comum.
Hoje vivemos um segundo Renascentismo, e a profusão das imagens que vemos diariamente, também esgota o jeito que víamos o mundo, tal qual há 450 anos atrás. Talvez seja por isso que programas do tipo "Vídeo-Cassetadas", "Pegadinhas", e outros do gênero, sejam tão comuns hoje e populares.
Quanto à questão de ser um super-herói, até mesmo no filme "Os Incríveis", em sua abertura, a "Mulher-Elástica" é entrevistada, e ela diz ao repórter: "Você acha que eu vou até a padaria do 'seu' Manoel com este uniforme? Você está louco, todos nós precisamos de uma identidade secreta! Ninguém pode ser um super-herói o tempo todo!".

Pós Escrito:
A preocupação dos produtores culturais atualmente é com esta questão, do ser humano mais humano, do que o que seja um tipo de super-herói. O que aparece, ou aparecia constantemente nas telinhas de cinema de Hollywood. Tal qual os anti-heróis, criados também no cinema não são mais do que pessoas simples e que você nunca a descreveria como autora de um crime hediondo. Basta estudar a vida dos "carrascos nazistas" da segunda-guerra mundial. Eram todas pessoas comuns, com famílias, filhos, esposas dedicadas, os oficiais líderes inclusive, todos tinham formação universitária. Nada de suas vidas garantir-lhes-ia um final de extermínio coletivo de tantas vidas alheias, e de suas próprias famílias.
Outro dia escutei um comentário de um colega, ele havia lido o livro "Operação Cavalo de Tróia", uma estória de ficção científica romanceada com a vida de Jesus Cristo. Este colega discursava para outros colegas, interessadíssimos numa passagem conhecida por todos nós, pois na bíblia a relata também. É quando Jesus Cristo tem um rompante de fúria ao ver o templo profanado com tantos vendedores ambulantes. Indignado ele joga as mesas no chão e expulsa os cambistas do templo sagrado.
É sabido pelas pesquisas de historiadores daquela época, que estes vendedores, são literalmente 'cambistas', ou seja, trocavam o dinheiro 'impuro' dos pobres, por dinheiro 'limpo', por uma diferença pelo 'serviço' de troca (o câmbio do dinheiro).
Nosso colega, segundo suas palavras, leu no referido livro 'Operação Cavalo de Tróia', que Jesus não teve este rompante, que aquilo tudo foi um 'erro' de interpretação histórico. Segundo o texto do livro, Jesus teria esbarrado ACIDENTALMENTE nas mesas, já que eram muitas, durante sua passagem, e NÃO teria tido o rompante de fúria descrito na bíblia. Ou seja, diretamente ou não, o livro induz a exclusão de uma característica humana de Jesus, e que foi prontamente aceita pelo nosso leitor, ajudando assim a manter o mito da santidade absoluta de Jesus.
Apesar do referido livro, citar Jesus fazendo várias coisas de uma pessoa comum, como por exemplo: jogar um jogo que hoje chamaríamos de futebol, pois envolvia brincar com uma 'bola' de bucho de boi. Fica uma questão que somente o próprio autor poderia explicar: porquê a 'desumanização' da passagem de Jesus pelo templo? Nosso colega justificou que como poderia uma pessoa tão sagrada como Jesus ter aquela reação? E se apegou numa explicação histórica falsa, que é a do livro 'Operação Cavalo de Tróia'.
Minha modesta opinião é que as pessoas de nossa época, assim como os judeus que condenaram Jesus, não aceitavam Jesus com TODAS as características HUMANAS que ele demonstrou, queriam MAIS que um rei, como um herói salvador (messiânico), sem as características humanas. Assim como o texto do 'super-herói' que as empresas querem de seus empregados.
Outra questão que não interfere na capacidade Dele ser um homem Santo e com dons imensos. Uma característica NÃO interfere nas outras, pelo contrário, o habilita a ser realmente quem ele foi. Ao invés das sociedades incentivarem as pessoas a ter COMPAIXÃO e EMPATIA, o que insinamos aos nossos filhos é repetir uma frase "desculpe", "perdão"... Não jogar lixo na rua, não falar palavrões, serem bonzinhos e honestos. Num mundo atormentado por exigências de sobrevivência aprenderemos que um dia nosso 'próximo' faltará conosco com um desses ensinamentos? Estamos ensinando nossos filhos a reagir quando o nosso próximo falhar para conosco? Como reagiremos? E nossos filhos?
Já viajei muito, já conheci muita gente, e o que sempre todos estão dispostos a ouvir é alguém isento de segundas intenções, e falem o que pensam sobre a vida, que é reflexo de suas vidas. Grandes empresários (nossos 'reis' modernos) que realmente gostem de valorizar as pessoas, o que mais eles gostam é de sentirem que alguém está perto dele não por quem ele seja ou o que ele representa, mas sim, por quem ele é. Num mundo onde é difícil dizer o que se pensa, somente nos resta procurar em pessoas simples uma conversa honesta e sem pretensões.

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