24 maio, 2006

Senador Bandido e Bandido Senador

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23/05/2006 - 22h58m


Givaldo Barbosa e Jailton de Carvalho - O Globo
Reuters
Agência Brasil
Ana Paula de Carvalho*




BRASÍLIA, CURITIBA e RIO - A Polícia Federal prendeu nesta terça-feira José Roberto Paquier, chefe de gabinete do senador Valdir Raupp (PMDB-RO) , e cinco empresários acusados de cobrar propina para fraudar pagamentos de estatais do setor elétrico a empresas privadas. Para a PF, os indícios recolhidos na Operação Castores reforçam as suspeitas sobre a existência de um “clube da propina”, consórcio criado por grandes empresas para pagar propina e facilitar negócios com Furnas Centrais Elétricas e outras estatais do setor.

O consórcio foi denunciado pelo ex-executivo da Toshiba José Antonio Csapo à PF em março deste ano.

— As investigações estão confirmando a existência do “clube da propina” na época do Dimas Toledo — disse o delegado Fernando Francischini, coordenador da operação.

Dimas Toledo é ex-diretor de Planejamento de Furnas. O executivo é investigado pela polícia por suposto envolvimento com a formação de um caixa dois para o financiamento de campanhas eleitorais de vários partidos antes das eleições de 2002.

A PF apreendeu ontem, no aeroporto Afonso Pena, em Curitiba, uma mala que estava em poder de Amaury Escudeiro, chefe de gabinete do deputado Luiz Carlos Haully (PSDB-PA). A mala foi passada a Martins pelo empresário Laércio Pedroso, um dos seis presos na Operação Castores. Segundo a PF, o esquema de corrupção era comandado por Pedroso, ex-funcionário da Itaipu Binacional desde 1992, que ocupava o cargo de gerente financeiro da estatal e havia denunciado no início do ano à revista “IstoÉ” um esquema de caixa dois que seria comandado por diretores da Itaipu.

A polícia quer saber o conteúdo dos documentos encontrados na mala e por que Pedroso passou a mala de forma sorrateira para Martins. As cenas foram filmadas pelas câmeras do aeroporto. Depois de preso, Pedrosa decidiu colaborar e, segundo a polícia, confirmou a intermediação de negócios suspeitos entre empresas privadas e estatais do setor elétrico.

A PF suspeita que grupo fazia tráfico de influência entre dirigentes das estatais para receber pagamentos superfaturados ou para eliminar multas aplicadas às empresas privadas punidas por atraso na entrega de mercadorias, entre outros crimes.

A polícia investiga tentativas de fraudes a partir de contratos de Itaipu Binacional, Furnas, Eletrosul e Eletronorte com várias empresas privadas. Entre elas, a multinacional Alston.

Foram presos também Luiz Geraldo Tourinho, sócio de Pedroso; o lobista Luiz Carlos Dias; e os empresários Osvaldo Panzarini e José Della Volpi, donos da transportadora Della Volpi.

À noite, o senador Valdir Raupp divulgou nota para se explicar sobre a prisão de Parquier. “Causou-me enorme surpresa a prisão do referido funcionário, bem como a busca e apreensão realizada em meu gabinete”. Raupp não contestou as denúncias de ligações de seu assessor com o grupo dos castores. Amaury Martins disse que recebeu a mala de Pedrosa apenas para tirar cópias dos documentos que o empresário entregaria hoje à Comissão de Relações Exteriores da Câmara.

Pedroso iria depor hoje na comissão. Em nota, a Eletrobrás disse que está acompanhando as investigações. “As empresas citadas estão preparadas para impedir que a impunidade prevaleça sobre os compromissos de todas elas com o país e com as leis em vigor”. As investigações foram pedidas pela presidência da Itaipu.

O clube da propina foi denunciado por Antonio Csapo à PF em março. Segundo ele, um grupo de empresas formaram um fundo para pagar propina e facilitar negócios com estatais do setor elétrico.

* Especial para O GLOBO

2 comentários:

Anônimo disse...

Os brasileiros devem se orgular da Polícia Federal.
Jose Antonio Csapo Talavera

Jose Talavera disse...

Depoimento à Polícia Federal. José Antonio Csapo Talavera, ex-superintendente administrativo da multinacional Toshiba, denuncia a empresa japonesa por integrar um “clube” que paga propina a dirigentes de estatais brasileiras e políticos no Congresso Nacional, para fazer negócios com o setor elétrico. Fazem parte da organização, além da Toshiba, as multinacionais WEG, Alston do Brasil, Asea Brown Boveri, GE (General Eletric) e Gevisa, esta última um consórcio entre a GE, Villares e Banco Safra.

De acordo com a acusação do ex-funcionário da Toshiba, as reuniões do “clube” se dão em São Paulo, em local não estabelecido, “quando são definidos os vencedores de licitações e contratos com o poder público, bem como os valores que serão pagos a título de propina”. O esquema contaria com a participação de funcionários das estatais Furnas Centrais Elétricas e Cemig (Companhia Energética de Minas Gerais). Durante o governo Lula, a Toshiba teria vendido componentes para o setor elétrico de Furnas no valor de R$ 8,6 milhões.

Talavera denuncia que Furnas teria exigido propina de US$ 5 milhões para autorizar a Toshiba a ganhar o negócio da construção de cinco ou seis usinas termelétricas. Dá como exemplo as usinas de Campos dos Goytacazes (RJ) e de São Gonçalo (RJ). Trecho do depoimento à Polícia Federal:

– Os valores que seriam pagos por Furnas já teriam embutidos percentuais destinados ao pagamento de propinas para a diretoria da estatal e alguns políticos. Tais recursos seriam repassados para a estatal e para os políticos através de falsos contratos de consultoria.

O ex-funcionário foi contratado pela Toshiba em 1998. Em 2001 tomou conhecimento do caixa 2 da multinacional. Obteve informações de Leonídio Soares, ex-diretor de Furnas em Minas Gerais. Ele teria admitido a prática de repassar dinheiro para funcionários da estatal, “mediante o desconto de cheques na boca do caixa, amparados por notas frias”.

Durante o depoimento, Talavera entrega à Polícia Federal exemplares de notas fiscais frias emitidas pela Toshiba, para justificar serviços de consultoria fictícios e a saída do dinheiro da propina. Ele cita o ex-diretor de Furnas, Dimas Toledo, como envolvido no esquema. Conta o que certa vez ouviu de Nobuhiro Tanimura, o presidente da multinacional no Brasil:

– Todos os que ocupavam cargos públicos nesses países estariam sujeitos a receber propina e que as coisas funcionavam assim na América do Sul como um todo.

Procurem saber mais sobre a Operação castor e sobre as dificuldades vividas recentemente pela ALSTOM na matriz...