08 maio, 2006

Atitude como um grande diferencial na carreira

4/5/2006

Ana Maria Cadavez e Lorene Carvalho
são, respectivamente, gerente e diretora da área de assessoria em gestão de recursos humanos da KPMG no Brasil.

Era do questionamento. Assim poderíamos nomear o período que começa no início da década de 90 e caminha num ritmo crescente ao longo dos anos. Reestruturação de grandes companhias, competitividade elevada, alta taxa de desemprego e tendência à terceirização dos serviços são alguns dos fatores de mercado responsáveis por tornar o processo de autoconhecimento uma ferramenta fundamental para o alcance do sucesso na carreira profissional e na vida pessoal.

Nesse sentido, as primeiras perguntas que o executivo deve fazer a si mesmo são: "Quem sou? Onde estou? E onde quero estar?", uma vez que o sucesso é um conceito totalmente individual e depende de escolhas. Segundo Dalai Lama, sucesso "é a coerência entre o pensar/falar/agir". Já, para outros, pode ser o equilíbrio entre cargo/salário/bens, ou seja, um processo individual de conhecimento. Este questionamento é o primeiro sinal de que a pessoa tomou uma atitude em relação a si mesma e não se acomodou a uma situação aparentemente confortável. A linha divisória entre o comodismo e a pró-atividade é a identificação do responsável por controlar a vida de cada um.

Hoje, ser bem qualificado tecnicamente é importante para o desenvolvimento de uma carreira, mas com certeza não é suficiente para garantir o sucesso no mercado de trabalho, como ocorria até o final dos anos 80. Ao longo dos últimos anos, o aspecto comportamental ganhou força e hoje podemos afirmar, sem medo de errar, que o potencial humano aliado a habilidades comportamentais como: comunicação, trabalho em equipe, busca por resultados, equilíbrio pessoal/profissional e relacionamento em todos os níveis significa 50% a 70% da resposta favorável em final em um processo de admissão de executivos.

No entanto, é preciso rever o conceito do nosso modelo de gestão, que, em virtude do alto volume de trabalho, da pressão por resultados de curto prazo e de equipes reduzidas, tende a dificultar a capacidade das pessoas refletirem sobre si mesmas e sobre seus caminhos atuais e futuros. Sendo assim, elas repetem modelos já existentes, tentando chegar ao topo, ao invés delas próprias se tornarem exemplos para aqueles que as cercam. Além disso, durante esse processo, os profissionais deixam de perceber que o modelo atual de sucesso não garante o êxito daqui a cinco ou 10 anos, pois as necessidades das empresas e do mundo demandam adaptações constantes - só um olhar crítico sobre si mesmo e sobre o contexto em que se vive (ou se quer viver) pode trazer o alinhamento necessário para a continuidade da carreira.

O clima de instabilidade dentro das companhias, gerado a partir dos grandes processos de reestruturação empresarial, estimula o fortalecimento de conceitos individualistas. Neste contexto, os profissionais não investem em um relacionamento de longo prazo com as empresas. Sendo assim, uma insatisfação momentânea com o emprego pode gerar pedidos de demissão. No entanto, é preciso analisar detalhadamente a situação e o impacto sobre a própria carreira e vida pessoal ao invés de tomar resoluções apressadas.

Dentro dessa visão de correções conscientes às próprias necessidades, um dos aspectos muitas vezes ignorado pelos executivos, é a aposentadoria, a qual deve ser considerada e planejada. Querendo ou não, todos nós envelhecemos. O que fazer neste momento? Morre-se porque deixou de trabalhar? Hoje, é possível vislumbrar uma série de atividades que permitem a continuidade da vida pós-aposentadoria. Atitude, nesse sentido, é encarar o aspecto profissional como um dos ingredientes dela, mas não o único.

Enfim, ter atitude é assumir a responsabilidade pelas escolhas que se faz na vida. Vale lembrar que traçamos metas com o objetivo de alcançar o sucesso, já felicidade é um estado de espírito. Precisamos estar felizes realizando pequenas tarefas diárias e não apenas quando conquistamos um grande resultado na vida profissional. No mundo corporativo, as empresas promovem palestras para os seus funcionários a fim de demonstrar exemplos de profissionais bem sucedidos, no entanto ter atitude, ou seja, questionar sobre habilidades e desejos é um exercício individual e diário.

Artigo originalmente publicado no jornal Valor Econômico.

Ana Maria Cadavez e Lorene Carvalho

Fonte:
http://www.revistadigital.com.br/opiniao_leitor.asp?CodMateria=3190

Nenhum comentário: