Roberta Jansen - O Globo
RIO - A descoberta de uma garra fossilizada em Peirópolis, Minas Gerais, revelou a existência de um animal aparentemente desconhecido dos cientistas: um dinossauro emplumado que não conseguia voar, mas era capaz de destroçar suas presas com facilidade. O dino-ave de Peirópolis, como vem sendo chamado pelos cientistas que o descreveram, viveu há 70 milhões de anos.
A garra encontrada tem 5,5 centímetros de comprimento e está muito bem preservada. Como uma foice, forma um ângulo de aproximadamente 90 graus em relação à base e apresenta sulcos laterais.
“A exemplo de uma lâmina de faca bastante afiada, possibilitava ao animal matar e dilacerar facilmente suas presas”, escreveram os cientistas.
— A partir da observação das dimensões da garra, pode-se inferir que ele teria no máximo dois metros de comprimento, 60 centímetros de altura e pesaria cerca de 80 quilos — afirmou um dos autores do estudo, Luiz Carlos Borges Ribeiro, coordenador científico do Museu dos Dinossauros, em Peirópolis. — Podemos dizer também que era bípede e carnívoro.
Analisando a garra, os cientistas conseguiram determinar que o animal pertence ao grupo dos maniraptores, intermediários entre os dinossauros e as aves. Mas é impossível dizer a que espécie pertence ou mesmo se se trata de uma espécie ainda desconhecida.
— Comparamos a garra com outras de todos os fósseis desse tipo na América do Sul e em vários outros lugares do mundo e não há nada semelhante descrito — afirmou Ribeiro, que assina o estudo ao lado de Ismar de Souza Carvalho, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e de Fernando Emiliano Novas, do Museu Argentino de Ciências Naturais. — Não dá para dizer que se trata de uma espécie nova com base em um único elemento ósseo. Mas, das garras conhecidas, nenhuma exibe essas características.
As inferências sobre o tamanho do animal e suas características gerais foram feitas com base nas descrições de outros animais do grupo dos maniraptores — dos quais diversos já foram descritos em diferentes partes do mundo.
— Com isso, pudemos inferir que tinha plumas e penas ainda que não conseguisse alçar vôo — sustentou Ribeiro. — Como é característica geral dos maniraptores, podemos dizer que tinha também os membros anteriores bastante alongados e as órbitas oculares grandes.
O mais importante, sustenta Ribeiro, é que a descoberta pode levar a uma compreensão mais acurada sobre o processo evolutivo de dinossauros a aves. Os primeiros dinossauros voadores surgiram há cerca de 150 milhões de anos. As penas apareceram bem antes, como elemento de regulação térmica.
Fonte:
http://oglobo.globo.com/online/ciencia/mat/2006/05/18/247241439.asp
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