12 abril, 2006

SuperMax

ELIO GASPARI


SuperMax é uma cana que existe nos Estados Unidos e faz muita falta no Brasil. São umas sessenta e para elas vão os delinqüentes que se organizam em facções criminosas, os que atentam contra a vida dos guardas, bem como os chefes do crime organizado que não colaboram com a promotoria. Vão também aqueles que servem de exemplo para quem está do lado de fora. O Unabomber, o brilhante matemático que aterrorizou os Estados Unidos despachando explosivos que feriram dez pessoas e mataram outras três, está na mãe de todas, a prisão de Florence, no Colorado. Como disse o diretor de uma dessas prisões ao pessoal de uma ONG de direitos humanos: “É bom que vocês mostrem como isso aqui é ruim para que ninguém queira vir para cá.”



Numa SuperMax, o cidadão fica trancado 23 horas do dia. Na 24, se for bem comportado, faz exercícios, sozinho, numa gaiola. Luz do sol, a da clarabóia. Visitas, só do outro lado do vidro blindado. Quem entra numa SuperMax tem um só objetivo na vida: sair de lá. Elas servem como um fator de dissuasão para os delinqüentes. No caso de Suzane von Richthofen e de seus dois comparsas, uma temporada numa SuperMax poderia levá-los a contar a verdade a respeito do assassinato do casal Manfred e Marísia von Richthofen.



Suzane tem 22 anos, participou da cena em que seus pais foram massacrados a golpes de barra de ferro. Foi ao enterro vestindo um pretinho descolado, com a barriguinha sarada à mostra. Posta em liberdade, teve direito a uma ofensiva de imprensa para mostrá-la como vítima sofrida, jovem desamparada a quem se deve dar o direito a um recomeço. Quem planeja e ajuda a matar duas pessoas não tem direito a recomeço. Assim como a vida de suas vítimas acaba no momento do crime, a liberdade dos bandidos acaba no momento em que são alcançados pela mão do Estado. Prosopopéias de recomeço servem apenas para ratificar a sabedoria da observação de Erle Stanley Gardner, o genial criador do detetive Perry Mason: “Depois que criaram o clichê psicanalítico, o romance policial perdeu a graça.”



Show de imprensa é uma prerrogativa do andar de cima. Ninguém jamais ouviu a voz de um bandido do andar de baixo. Mofam na prisão, muitas vezes com as sentenças vencidas, sem direito a entrevistas humanitárias. Um dos argumentos mencionados em defesa da senhora Richthofen é que ela não quer voltar para a cadeia. Ora, ela não esteve lá porque um dia resolveram prender as moças loiras cujos nomes começavam com S. Foi encarcerada porque tramou e presenciou a morte dos pais.



Deve-se aos jornalistas Fabiana Godoy, Alexandre Dantas, Américo Figueroa e Pedrinho Tonelada o desmascaramento do embuste que a delinqüente e seus advogados encenaram, com o propósito de empulhar a choldra. Esses jornalistas cortaram o caminho do exercício prepotente do privilégio. Com o trabalho levado ao ar, salvaram o gol na pequena área. Poderiam ter sido instrumento de uma urdidura, transformaram-se em denúncia da trama.



Se a aplicação de um regime prisional duro à senhora Richthofen e aos seus comparsas estimular a remessa de ilustres hierarcas de Brasília à cadeia, melhor assim. Nesse caso, Suzane terá aberto o caminho para o encarceramento dos delinqüentes que vêem na manipulação da patuléia um alçapão que lhes garanta a impunidade. Haja SuperMax.



ELIO GASPARI é jornalista.


Fonte:
http://oglobo.globo.com/jornal/colunas/gaspari.asp

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