27 abril, 2006

Leia coluna de Miriam Leitão sobre o drama da Varig

Globo Online
Bom Dia Brasil

O drama da Varig, que se arrasta há tanto tempo, não tem fim possível. Todas as vezes em que se tentou chegar a alguma solução, a própria Varig impediu que a solução fosse encontrada.

A Fundação Rubem Berta sair da companhia. Este é o ponto onde se bate a cada vez que se tenta resolver o problema da Varig. E ela sem nada no bolso. A fundação sempre sabotou todas as propostas de solução.

No final do governo passado, os economistas Clovis Carvalho, José Roberto Mendonça de Barros e Arnin Lore tentaram uma solução. Naquela época a empresa era mais viável. Hoje, o buraco aumentou muito.

E por que é preciso afastar os atuais controladores e sem nada no bolso? Primeiro, porque eles são donos de uma dívida. O patrimônio líquido negativo da empresa é de R$ 6 bilhões. Segundo, porque foram eles que cavaram o buraco da empresa, por má gestão.

A Varig tem quatro níveis de poder acima da diretoria. Uma confusão que nenhuma outra empresa tem. As empresas ficaram mais simples nos últimos anos. O mais alto desses níveis da Varig tem 180 pessoas, é o colégio deliberante.

Os casos de desperdício na companhia sempre foram absurdos e antigos. Um exemplo: só com caviar, a empresa gastava US$ 6 milhões por ano. Ela tem nove classes de avião, e cada piloto só voa em um tipo.

Quando um avião deixa de fazer uma linha, os pilotos ficam recebendo sem trabalhar. Só no caso do jet class, que parou de voar para Brasília, 150 pilotos ficaram dois anos sem trabalhar e nem eram demitidos.

Há várias extravagâncias que o controlador nunca deixou eliminar. A dívida que o governo tem com a Varig ainda está sendo discutida na Justiça. Mesmo se fosse paga, não cobriria nem a dívida com o próprio governo.

Este é um momento perigoso, em que podem aparecer aventureiros. É preciso que a proposta seja realmente viável, e não uma forma de um aventureiro chegar e pegar uma empresa quebrada e descolar um dinheiro no BNDES. Tem que tomar cuidado com isso.

Nas vezes em que a Varig foi analisada, a empresa se mostrava viável porque ela tem um patrimônio incrível. É a única empresa brasileira que foi fundadora da International Air Carrier Association (IACA, ou Associação Internacional de Transportes Aéreos), que tem conhecimento de operação nos grandes portos do mundo.

A Varig tem um centro de treinamento de pessoal que é realmente extraordinário, de classe mundial. O simulador que tem no Aeroporto Internacional Tom Jobim, no Rio de Janeiro, recebe gente do mundo inteiro para treinamento. Enfim, é uma boa empresa, mas que errou demais e cavou um buraco grande demais.

Miriam Leitão

Fonte:

http://oglobo.globo.com/online/economia/mat/2006/04/27/246971599.asp

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