25 abril, 2006

Farra das doações fraudulentas

Garotinho: duas empresas doadoras são do mesmo sócio

Das quatro firmas que deram R$ 650 mil à pré-campanha, duas também têm em comum o capital social


Garotinho: É nestas horas que ele tem certeza da separação entre a igreja e o estado! Ele usa o melhor da lei em benefício próprio.





Há mais semelhanças entre duas das quatro empresas que fizeram doações para a pré-campanha do ex-governador Anthony Garotinho no PMDB do que os endereços, os ramos de atuação (consultoria em informática) e o fato de não prestarem serviço ou não funcionarem nos locais declarados ao partido ou à Receita. A Inconsul e a Emprin, que doaram juntas R$ 300 mil, têm um sócio em comum, foram constituídas com o mesmo capital social (R$ 10 mil) e surgiram no mesmo mês e ano (junho de 2004). De acordo com dados da Junta Comercial do Rio de Janeiro, Estefano Bezerra da Silva, morador do Lins de Vasconcelos, no Rio, é sócio das duas empresas.



O empresário não foi localizado ontem. Na Inconsul Informática e Consultoria, Estefano aparece como sócio de Marcos André Coutinho. Cada um entrou com R$ 5 mil para construir a empresa, no dia 4 de junho de 2004. Na Emprin Empresas de Projetos de Informática, aberta no dia 22 de junho, Estefano é sócio de Nildo Jorge Nogueira Raja. Cada um aplicou R$ 5 mil na empresa.



PMDB: empresas cumprem lei



Segundo reportagem do GLOBO publicada no domingo, a Inconsul não funciona no endereço fornecido pelo PMDB — no quinto andar de um prédio de quatro andares no Centro de Rio Bonito. O partido ontem, em nota, afirmou que o jornal informou “equivocadamente” o endereço da sede fiscal da empresa, em Rio Bonito. De acordo com a nota, a empresa funcionaria no segundo andar, “onde cumpre rigorosamente a legislação vigente”. A empresa, porém, não foi encontrada em qualquer uma das salas no prédio citado pelo partido.



No endereço da Emprin, também no Centro de Rio Bonito, a informação era de que a empresa estaria funcionando numa sala no andar de cima. O local, no entanto, estava fechado. De acordo com a nota do PMDB, as empresas “cumprem rigorosamente a legislação em vigor e satisfazem todos os requisitos permitidos pela lei. Ou seja, mantêm sedes fiscais no município de Rio Bonito e funcionam em todo o Estado do Rio de Janeiro, e particularmente na capital, pois recebem os benefícios de redução do ISS — Imposto sobre Serviços — dados pela prefeitura daquela cidade”. A alíquota de ISS de Rio Bonito é de 1%, uma das mais baixas do estado. Segundo a Receita Federal, a Emprin e a Inconsul funcionam no endereço de um escritório de contabilidade.



As informações da Junta Comercial mostram que a composição de outra empresa doadora, a Virtual Line, teria sido alterada em 5 de abril deste ano. Foi quanto teria entrado na firma o empresário Luiz Antonio Motta Roncoli, que, em entrevista ao GLOBO, confirmou ter doado R$ 50 mil ao PMDB. A doação, no entanto, foi feita no dia 17 de fevereiro. O empresário afirmou ontem ter documentos que mostram que ingressou na empresa em agosto, quando comprou as partes de José Onesio Rodrigues Ferreira e Sarajane Aparecida Luz Costa, sócios-gerentes desde a criação da empresa, em 26 de janeiro de 2005. O capital social da empresa é de R$ 38 mil.



O PMDB afirmou ainda, na nota, que o Tribunal Regional Eleitoral (TRE) não exige a apresentação de prestações de contas desse tipo de campanha. “Mas o diretório regional, a fim de dar maior transparência, tornou públicas as informações acerca das despesas efetuadas”.



Na Junta Comercial de Pernambuco, a Teldata, Telecomunicações e Sistemas, que contribuiu com R$ 250 mil para a pré-campanha, tem como sócios são Frederico Guilherme de Souza, Irapuam Ribeiro Palmeira e Erika Azevedo Louro. O capital social da Teldata é de R$ 10 mil. O endereço fornecido pelo partido em Recife não foi localizado pelo GLOBO. Embora a rua exista, não há imóvel no número 133 da Avenida Presidente Kennedy, bairro do Ipsep.



— Moro aqui há 43 anos e nunca ouvi falar desta empresa. Não sei que firma é esta, e olha que sou uma das fundadoras desta Vila Aliança — disse Maria do Carmo Silva Assunção, moradora da mesma rua.



Em Olinda, de acordo com os dados na página do Ministério da Previdência, a sede ficaria no endereço onde mora o aposentado Augusto Alves de Lira, que diz ter recebido a casa da filha Marlene Alves da Rocha. O PMDB alega que a empresa teria funcionado na residência até o dia 17 de janeiro de 2004 e depois transferida para Recife. O aposentado, porém, disse que mora há seis anos no imóvel e que nunca ouviu falar de qualquer empresa que tivesse funcionado lá, muito menos até 2004.




Fonte:

http://oglobo.globo.com/jornal/pais/246944871.asp



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