20 abril, 2006

O CASO CASOY

por Ipojuca Pontes

É muito estranho e mesmo deplorável o caso de Boris Casoy, o mais confiável âncora da televisão brasileira, de fato, um apresentador em quem se podia acreditar. Casoy, que não tem diploma de jornalista, dirigiu com eficiência a Folha de São Paulo nos anos 1970/80, depois se voltou para o telejornalismo no SBT, convidado por Silvio Santos e, há oito anos, ingressou na Rede Record de Televisão, onde, no Jornal da Record, entre 20:15 h. e 21 h., protegia o seu numeroso público das mentiras oficiais e extra-oficiais que trafegam livremente em algumas emissoras, em especial na que lidera a audiência do noticiário televisivo.

O âncora da Record era uma mistura cabocla de Walter Cronkite com Tom Brokaw, na antiga CBS News, em Nova York, conduzindo um gênero de jornalismo que requer personalidade, conhecimento e segurança ao narrar, anunciar ou comentar a notícia. Com anos de experiência como editor de jornal, Boris Casoy tinha o sentimento dos fatos, era objetivo, corajoso, sabia contemporizar, mas não perdia o senso da integridade, uma virtude rara em qualquer forma ou escala de jornalismo. Querem um exemplo? Na campanha presidencial, em 2002, entrevistando o candidato Lula da Silva, foi o único entrevistador a interrogar o atual presidente sobre as ligações deste com o Foro de São Paulo e as FARC, citando como fonte uma denúncia feita pelo poeta Armando Valladares, o "prisioneiro de consciência" da Anistia Internacional. (Como resposta, à época, julgando-se ofendido e não tendo como se explicar, Lula preferiu partir para o ataque, afirmando que o poeta-mártir - torturado durante 22 anos por Fidel Castro, nas masmorras da ilha-cárcere - "não passava de um picareta").

Alçado ao Poder, em 2003, o esquema de Lula - o homem da Ancinav e do Conselho Federal de Jornalismo, peças básicas e ainda não sepultadas na conjectura da construção de uma "democracia direta" totalitária - passou a pressionar de forma intermitente os patrões de Casoy, para colocá-lo no olho da rua. O dito esquema só aliviou a barra, pelo que se sabe, quando explodiu o caso Waldomiro Diniz, o braço esquerdo do Comissário Zé Dirceu especialista em tomar a grana dos bicheiros, contraventores e tutti quanti, ao que se diz, para enfiá-la no "caixa" de campanha. Antes, quando explodiu o escândalo do Banestado, ficou quase impossível falar nos nomes das personalidades oficiais envolvidas nas operações fraudulentas e até mesmo de mencionar a amizade de Lula com o seu hospedeiro, Roberto Teixeira, o agente de comissões e negócios junto às prefeituras de Ribeirão Preto e São José dos Campos.

Mas, a partir do estrondoso escândalo do mensalão, o PT e o governo retornaram a pressionar com violência a emissora da Igreja Universal para que o apresentador fosse demitido. Na verdade, desde 2004, com a veiculação da notícia, em tom crítico ("isto é uma vergonha!"), da compra ilegal de ingressos de show musical para arrecadar fundos de campanha para o PT, o Banco do Brasil, patrocinador do telejornal, atendeu a ordem superior e reduziu a cota de publicidade na emissora, que caiu, em números exatos, de R$ 1 milhão para R$ 300 mil mensais. Na retaliação, os anúncios foram retirados dos intervalos comerciais do noticiário e, a partir daí, programados em "inserções avulsas". A decisão final de nocautear o arrojado âncora veio quando, em dezembro de 2005, ao assistir o resumo dos acontecimentos políticos do ano, empreendido por Casoy, um áulico do Planalto teria concluído o seguinte: "Com esse homem no ar não há hipótese de se pensar em reeleição".

Sempre muito distinto, Casoy garantiu numa entrevista que nunca foi alvo de censura, enquanto esteve à frente do jornal da Record, pelos donos da emissora. Saiu, onze meses antes do término do contrato, segundo se afirmou, porque não concordava com o novo formato do noticiário a ser produzido - e, hoje, pelo que se vê, mero pastiche do que se faz de pior no telejornalismo da Globo.

Por outro lado, no Congresso, semana passada, reportando-se ao fato, o senador Antonio Carlos Magalhães, ativo coronel da política baiana, garantiu que Boris Casoy saiu da emissora pela vontade direta de Lula - informação que, curiosamente, não foi desmentida. De todo modo, o fato concreto é que o telespectador perdeu a apurada consciência crítica do âncora, uma "espiga de milho em meio ao cafezal" da acomodação que acode o noticiário televisivo.

De Casoy e, verdade seja dita, também de sua assistente, Salete Lemos, depois de Joelmir Bething, a mais competente analista do noticiário econômico da televisão brasileira.


O caso Casoy lembra, até certo ponto, o do jornalista Carlos Blanqui, editor do "Revolución", jornal de grande importância na Cuba pós-revolucionária, de início comprometido com a busca da verdade. Depois de algum tempo, vendo que Fidel Castro fazia da ilha um posto avançado da URSS enquanto baixava a mão nefasta da censura sobre os órgãos de comunicação, Blanqui passou a criticá-lo abertamente. Resultado: ameaçado, teve de fugir para a Itália, não sem antes lembrar ao tirano a divisa de Rosa Luxemburgo, segunda a qual "a liberdade apenas para os partidários do governo, ou somente para os membros do partido, não importa quão numerosos, não é liberdade - só é liberdade se o for para aquele que pensa diferentemente".

E esta não é a legenda, ao que tudo indica, de Lula e aliados do tipo Tarso Genro ou Gushiken, que querem a imprensa funcionando em favor do governo, controlada por conselhos e comitês estatais, a punir ou marginalizar os discordantes, como Boris Casoy, por exemplo, uma figura incômoda que levava às massas a crua indignação em face dos escândalos diários que tornaram a vida pública brasileira alguma coisa parecida com a zona.

Recebido por e-mail em 20/04/2005


Comentário:


Entre 1997 e 1998 fazia trabalhos de fotojornalismo em Belo Horizonte. Era ‘free-lance’. Trabalhei como tal para a associação do BDMG, BEMGE, e estava sempre lendo no noticiário local para saber de notícias para o meu trabalho, mas EXCLUSIVAMENTE sobre lançamentos de livros, peças de teatro, inauguração de museus, cinemas, lançamentos de filmes, etc.

Naquela época conheci uma jornalista e relações públicas de uma agência de publicidade. Não estava nem aí para a política do Brasil na época, pois tal como hoje, estava MAIS desiludido sobre nossas possibilidades para um futuro. Hoje, não coloco mais fé alguma que o Brasil atinja uma grandeza não só da balança comercial, mas também sobre as políticas de saúde, segurança pública, emprego, cultura educação de nosso povo.

O mais curioso é que SEM procurar ou investigar sobre o assunto, a minha amiga jornalista, recém-formada, me dizia o quanto se gastava na campanha do Eduardo Azeredo, pois ela apesar de trabalhar CONTRATADA pelo SERVAS, TRABALHAVA NA CAMPANHA DE REELEIÇÃODO ENTÃO GOVERNADOR, EDUARDO AZEREDO. Sabe o nome da empresa que ela era contratada? SMP&B. Fui lá várias vezes. Ficava na Rua da Bahia, um quarteirão antes do Minas Tênis Clube, na frente do Centro de Comando da Polícia Militar de Minas Gerais. Não foi por acaso que ela foi trabalhar lá, pois o pai dela também trabalhava na CEMIG. Nosso colega.

Pensei o que era óbvio: o novo esquema de desvio de dinheiro está no gasto em publicidade, estava claro como uma manhã de domingo. Arrependi de ter votado no Sr. Eduardo Azeredo. Votei nele exatamente porque era a minha esperança de que a CEMIG se desligasse por completo dos políticos, e não fosse mais usada pelos mesmos. Mesmo que isto me custasse o meu emprego, no momento da privatização e ‘enxugamento’ nos seus quadros.


Uma antiga namorada minha que viveu dos 7 aos 14 anos nos EUA, pois os pais dela lecionavam numa universidade de Maryland, me disse uma vez que a diferença de um político corrupto ou de quem simplesmente gastava o dinheiro público de maneira errada, estes NÃO ERAM REELEITOS. Aqui eles são reeleitos!

Agora eu entendo o que ela dizia sobre o nosso país e sobre a nossa cultura.


Este país não tem jeito!

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