17 abril, 2006

Brasil e Índia viraram agentes dos ricos na OMC, diz intelectual indiano

Brasil e Índia abandonaram os seus papéis de líderes do mundo em desenvolvimento e passaram a agir como agentes dos países ricos nas negociações para a liberalização do comércio internacional, diz um artigo publicado nesta segunda-feira pelo jornal indiano The Hindu.
O artigo é assinado pelo intelectual indiano Balakrishnan Rajaggopal, que leciona Lei e Desenvolvimento no MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts), nos Estados Unidos.

Rajaggopal atribui o fracasso da última reunião da OMC (Organização Mundial do Comércio) em Hong Kong, em dezembro, ao que chama de falta de união do Terceiro Mundo e destaca como uma das razões disso a inclusão do Brasil e da Índia em um grupo especial de negociações do qual também participavam União Européia, Estados Unidos e Austrália.

"Incluir a Índia e o Brasil no grupo foi uma brilhante manobra do Ocidente para dividir o Terceiro Mundo removendo dois líderes chave da coalizão terceiro-mundista do G-20 (formada) em Cancún."

Segundo o acadêmico, não só os países ricos não fizeram concessões para abrir seus mercados como as nações em desenvolvimento "foram forçadas a concordar com severas reduções tarifárias e compromissos em produtos não agrícolas, como peixes".

Para ele, o acordo "forçado" no setor de serviços serve como um exemplo do "colapso do multilateralismo tradicional".

"Líderes de coalizões de países em desenvolvimento como Índia e Brasil desertaram papéis tradicionais e, ao invés disso, agiram como agentes de países ricos usando o seu capital político e diplomático para convencer outros países em desenvolvimento a concordar com a declaração final."

Disparidades

Mas o intelectual indiano também destaca a grande disparidade entre os países pobres e em desenvolvimento envolvidos nas negociações e a dificuldade de chegar a uma agenda comum.

"O Terceiro Mundo se tornou dividido entre cerca de 30 grandes nações comerciantes - incluindo China, Índia, Brasil, África do Sul e Tailândia - com populações substanciais beneficiando-se do comércio e o resto consistindo de pequenas, isoladas ou pobres nações que não estão integradas à economia mundial", escreve Rajaggopal.

"Grandes países, de dimensões continentais, como Índia, China e Brasil, têm economias enormes e posições de liderança em setores como agricultura ou têxteis. Essas nações jogam com a coalizão do Terceiro Mundo desde que isso atenda a seus interesses."

"A realidade é que os interesses de pequenos e grandes, comerciantes e não comerciantes não coincidem mais, se eles um dia já coincidiram."

O autor conclui dizendo que é necessário um "pensamento radical" para desenvolver novas estratégias e construir alianças com novas bases.

Fonte:
http://www.bbc.co.uk/portuguese/reporterbbc/story/2006/04/060417_pressreview.shtml

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