03 outubro, 2005

Armas de fogo

10/01/2005 - 22h16m
Vidas em Risco: O drama familiar da atriz que perdeu o irmão
Cláudia Lamego

O GloboRIO - Márcio Rodrigues tinha 25 anos, estudava química e era faixa-preta de judô. Parecia feliz, mas na manhã de um domingo de 1991, pegou a arma que a família tinha em casa e deu um tiro na própria nuca. A atriz Cláudia Rodrigues, a Marinete do programa "A diarista", da TV Globo, estava no quarto ao lado e ouviu o disparo que matou o irmão. A arma, um revólver de calibre 32, era do bisavô de Cláudia. - Acho que foi um ato de desespero. Ele tinha brigado com a namorada, mas não sabemos se o motivo foi este, até porque o namoro era recente - diz a atriz. Uma semana antes, o irmão testara o revólver porque a família, que à época morava no Alto da Boa Vista, tinha ouvido tiros na vizinhança. Mas a arma falhara. - Naquela época, era comum no bairro, afastado, que as pessoas tivessem arma para se proteger. Mas a arma instiga. Se não tivesse, ele poderia estar vivo hoje. Talvez até tenha usado a arma pensando que ela não fosse funcionar de novo - acha a atriz. Três anos depois, Cláudia enfrentou o drama da morte do pai, que tinha câncer. A atriz, que fez sucesso com personagens de comédia, lembra que o irmão a incentivou a atuar. - Meu irmão dizia que eu era muito palhaça, tinha que ser atriz. Ele conheceu a Rosane Goffman numa academia e me apresentou. Depois que ele morreu, ela me chamou para fazer um curso de teatro. Eu estava triste, só pensava em ir para casa cuidar dos meus pais e terminar minha faculdade de educação física. Mas acabei seguindo carreira artística. Até hoje, Cláudia não gosta de ouvir tiros nem fogos de festas de São João. Em pleno sucesso com a personagem Marinete, no segundo ano do programa, a atriz afirma que a comédia ajuda a espantar a tristeza. - Fico muito agoniada ao ouvir tiros. Acho que a vida tem duas magias: o humor e a música. O humor me ajudou muito a lidar melhor com a realidade, a enfrentar essa questão da vida e da morte - conta Cláudia. A atriz diz que sua mãe ficou deprimida durante 11 anos depois da morte do filho. Só melhorou seu estado de espírito quando nasceu a neta Iza, hoje com 3 anos, filha de Cláudia. A atriz afirma que quer se engajar na campanha contra o comércio de armas. Com 34 anos, ela nunca foi assaltada: - É muito perigoso ter arma em casa, ainda mais com criança, que não tem noção do perigo. As pessoas têm que continuar se desarmando.

Fonte: http://oglobo.globo.com/especiais/referendo/mat/170094763.asp

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