21 outubro, 2005

Sindicatos sobre pressão nos EUA

Sob pressão, sindicatos fazem concessões nos EUA
20/10/2005

Os enormes prejuízos da indústria automobilística e as concordatas de companhias aéreas estão forçando grandes concessões dos sindicatos mais poderosos dos Estados Unidos. As entidades sindicais não têm uma fração do poder dos sindicatos europeus, mas as concessões que os trabalhadores estão sendo forçados a fazer são sem precedentes, especialmente na indústria automobilística. As dificuldades de alguns dos maiores empregadores do país soma-se à transferência de empregos de baixa qualificação na indústria para países como China e Índia, o que acua ainda mais o movimento sindical. Deve ser votado no fim de semana o acordo proposto pela General Motors ao United Automobile Workers (UAW) para reduzir despesas de saúde de funcionários aposentados. A proposta deve reduzir em US$ 1 bilhão os gastos anuais com saúde. O presidente da GM, Rick Wagoner, anunciou o acordo esta semana como parte do esforço de reestruturação da empresa, que fechou o terceiro trimestre com prejuízo de US$ 1,6 bilhão - as perdas no ano chegam a US$ 4 bilhões. O UAW, que representa a elite dos trabalhadores da indústria nos EUA, está sendo forçado a concessões no acordo coletivo que terminaria em 2007, em meio a um clima cada vez pior para a indústria automobilística americana. Tanto a Ford quanto a GM foram rebaixadas pelas agências de risco. A Ford também está negociando com o sindicato a redução de gastos com planos de saúde. Os trabalhadores filiados à UAW são considerados aristocratas se comparados a empregados de setores com entidades sindicais não tão poderosas. A indústria automobilística é uma das poucas que concedem planos de saúde com benefícios generosos e sem necessidade de repartição do custo com o trabalhador. Essas condições praticamente não existem em empresas fora da área de saúde. A espada sobre a cabeça dos sindicatos é a possibilidade de as grandes indústrias pedirem concordata, o que automaticamente reabre as negociações sobre condições trabalhistas. O primeiro teste do poder de barganha dos sindicatos na reestruturação ocorrerá com a Delphi, maior fabricante de autopeças do mundo, que entrou com pedido de concordata neste mês. A empresa está tentando negociar reduções de mais de 50% nos salários, de US$ 27 por hora de trabalho para US$ 10 por hora. A redução salarial é apresentada pelas companhias como a única maneira de competir com cadeias de produção globais que incluem unidades em países com baixos custos de trabalho. Os exemplos de concessões são grandes na indústria aérea e siderúrgica, por exemplo. Trabalhadores da Delta Air Lines estão tentando defender a continuidade das contribuições da empresa a seus fundos de pensão na corte de falências de Atlanta. A United Airlines está pedindo à corte de Chicago que autorize a transferência do seu fundo de pensão, que tem um rombo atuarial bilionário, à entidade governamental Pension Benefit Guarantee Corporation (PBGC), que assumiria as obrigações do fundo em troca de títulos de dívida e ações da companhia. Os pilotos e outras categorias já aceitaram redução salarial. A American Airlines também fez a mesma negociação. A Northwest Airlines derrotou uma greve de mecânicos contratando um exército de trabalhadores temporários para não interromper os seus vôos. A dificuldade de reação às rápidas mudanças nas condições de trabalho de empresas americanas está aumentando as divisões no movimento sindical. Vários sindicatos decidiram este ano desfiliar-se da confederação sindical AFL-CIO, alegando que a confederação não está sendo efetiva na defesa dos interesses dos trabalhadores. Uma das ações da central sindical tem sido pressionar por sanções à China por manipulação da moeda, alertando para a perda de empregos na área de manufaturas. O problema é que a transferência de unidades de produção para o país foi tão grande nos últimos anos que, para muitas multinacionais americanas, a China é uma parte fundamental de suas cadeias de produção.

Fonte: Valor Econômico/Tatiana Bautzer
http://www.revistadigital.com.br/namidia.asp?CodMateria=2930

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