24 outubro, 2005

Acordo protege mandato de Azeredo

Firmou-se no Congresso um curioso acordo de cavalheiros para proteger o senador Eduardo Azeredo (MG), presidente nacional do PSDB. Adversário figadal do tucanato, o PT participa do acerto.

Ouvido na semana passada pela CPI dos Correios, Cláudio Mourão, tesoureiro de Azeredo na campanha para reeleição ao governo de Minas em 98, confirmou o que já se sabia:

1. A campanha reeleitoral de Azeredo valeu-se de caixa dois;

2. O custo total da campanha foi de R$ 20 milhões. Declararam-se à Justiça Eleitoral apenas R$ 8,5 milhões;

3. Para angariar os fundos de má origem, Mourão recorreu ao empresário Marcos Valério de Souza, o mesmo a quem Delúbio Soares, expulso no sábado do PT, terceirizou a tesouraria clandestina do petismo a partir de 2002;

4. A intermediação de Valério carreou para as arcas eleitorais de Azeredo R$ 11 milhões.

Por analogia, Azeredo deveria receber no Congresso um tratamento semelhante ao dispensado aos congressistas pilhados recebendo dinheiro de empresas de Valério, a mando de Delúbio Soares. Não é, porém, o que vem ocorrendo.

Em reuniões reservadas, lideranças do PSDB articulam um cinturão de proteção a Azeredo. Em encontros com o líder do PT no Senado, Aloisio Mercadante (SP), o líder do PSDB, Artur Virgílio (AM), argumentou que a investigação fugiria ao foco se Azeredo fosse investigado.

Vocalizando um sentimento que é de todo o tucanato, Virgílio diz, segundo apurou este blog, que Azeredo não era senador em 98. De resto, perdeu a eleição de 98. Investigá-lo agora representaria uma abertura de dique que forçaria as CPIs a recuar no tempo, postergando indefinidamente as apurações em curso. Mercadante concordou com os argumentos do colega.

Resta saber se os entendimentos resistirão às novas revelações contra Azeredo, divulgadas neste final de semana. O próprio Azeredo viu-se forçado a reconhecer à Folha (para assinantes) que teve uma dívida sua com Cláudio Mourão paga por Marcos Valério em pessoa. Em agosto, o senador dissera à CPI dos Correios que desconhecia a coleta clandestina do tesoureiro Mourão.

A operação ocorreu em 2002. É de R$ 700 mil o cheque com que Valério quitou a dívida de Azeredo. Em sua edição deste final de semana, a revista “Isto É” traz uma cópia do documento. A dívida referia-se a um processo judicial movido por Mourão contra Azeredo. Ele reclamava passivos da campanha de 98, que não haviam sido honrados.

A proteção a Azeredo torna-se cada vez mais constrangedora. Ontem, Osmar Serraglio (PMDB-PR), relator da CPI dos Correios, já falava em convocar Azeredo para depor, informa a Folha (para assinantes) desta segunda-feira.

Escrito por Josias de Souza às 03h15

Fonte:
http://josiasdesouza.folha.blog.uol.com.br/arch2005-10-23_2005-10-29.html#2005_10-24_02_15_44-10045644-26

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