21 outubro, 2005

Amazonas, ele já está agonizando!

20/10/2005 - 16h09m
Estudo indica que extração seletiva de madeira está aumentando a devastação da Amazônia
Juliana Braga - Globo Online

RIO - Pela primeira vez, um grupo de cientistas americanos e brasileiros conseguiu avaliar o impacto da chamada extração seletiva de madeira na Amazônia. Os resultados do estudo, que será publicado na edição desta semana da revista 'Science', mostram que a atividade, muitas vezes realizada ilegalmente, está aumentando o desmatamento da floresta amazônica. Para realizar o trabalho, a equipe contou com um novo sistema de satélite de altíssima resolução, desenvolvido por cientistas da Instituição Carnegie e da Universidade de Stanford. - Pela primeira vez, nós pudemos enxergar o solo através das copas das árvores. Quando se extrai duas ou três árvores de uma determinada área, não é muito fácil detectar os danos porque a floresta se reconstrói e as imagens feitas por satélite não chegam a registrar a destruição que já ocorreu - explicou o pesquisador José N. Silva, da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) na Amazônia Oriental, que junto com o cientista Paulo Oliveira, da Instituição Carnegie de Washington (EUA), compõem a parte brasileira da equipe. Liderada pelo pesquisador americano Gregory Asner, também da Instituição Carnegie de Washington, a equipe analisou áreas de extração de madeira de cinco estados brasileiros: Pará, Mato Grosso, Rondônia, Roraima e Acre, entre os anos de 1999 a 2002.O resultado surpreendeu Silva. - Fiquei surpreso devido ao tamanho da área desmatada, que variava entre 1,2 milhão a dois milhões de hectares por ano - contou o pesquisador, em uma entrevista por telefone. Os cientistas observaram que a extração seletiva ocorria de maneira mais concentrada nos estados do Mato Grosso e Pará. Em ambos, as áreas onde foi registrada a atividade eram maiores ou do mesmo tamanho que as partes desmatadas, informaram os pesquisadores no artigo da revistas científicas. Nos estados menores, a extração fazia com que as áreas destruídas da floresta aumentassem cerca de 10% a 35¨%, com relação aos danos já causados por desmatamento. A atividade também traz outra grave conseqüência: o aumento da liberação de carbono na atmosfera, associado ao fenômeno do aquecimento global. - Quando há a extração de uma árvore, o que fica lá são restos de folhas, raízes e madeira, que chamamos de biomassa. Quando esse material se decompõe, há uma liberação de carbono, que dentro de uma década volta à atmosfera em forma de dióxido de carbono - lembrou o pesquisador. A equipe de cientistas também observou que a extração de madeira ocorria em áreas não autorizadas, como nas reservas indígenas de Xingu Aripuanã e Serra Morena, no norte do Mato Grosso. Nelas, os cientistas chegaram a registrar áreas de até 50 quilômetros quadrados de áreas devastadas pela extração. Para Silva, o trabalho poderá ajudar o governo brasileiro a coibir a extração ilegal de madeira. - O governo tem condições de evitar a exploração ilegal. Basta controlar a atividade florestal, determinando as áreas onde a prática pode ocorrer e punindo quem entrasse nas áreas não autorizadas - defende o pesquisador. A Bacia da Amazônia abriga a maior floresta tropical da Terra, uma região tão vasta quanto os Estados Unidos. A área é dividida entre o Brasil e outros sete países latino-americanos.

Fonte:

http://oglobo.globo.com/online/ciencia/188868207.asp

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