14 outubro, 2005

A turma da bala mais uma vez

Rio, 14 de outubro de 2005

Deputado do ‘Não’ preso por porte ilegal de armas
Jorge Gouveia
Especial para O GLOBO

PALMAS. O deputado estadual do Rio, José Nader Júnior (PTB), vice-presidente da Comissão Especial contra o Desarmamento e pelo Direito à Legítima Defesa, da Assembléia Legislativa, e defensor do voto “Não” no referendo de 23 de outubro, foi preso em flagrante ontem pela Delegacia de Meio Ambiente do Estado do Tocantins (Dema) sob a acusação de crime ambiental e de porte ilegal de arma. Detido no município de Pium, a 119 quilômetros de Palmas, às margens de um afluente do Rio Araguaia, o deputado, que é filho do conselheiro do Tribunal de Contas do Estado (TCE) José Nader, tinha quatro armas e 412 cartuchos de munição, inclusive de uso restrito às Forças Armadas. Também foram encontrados no chalé onde ele estava peixes ameaçados de extinção e de pesca proibida no país. As armas eram três revólveres (dois calibre 38 e um calibre 32) e uma pistola .40, de uso exclusivo da polícia. Transferido para Palmas e ouvido pela Polícia Civil de Tocantins, o deputado admitiu que a pistola era da Secretaria de Segurança Pública do Rio. Ele alegou que andava armado por estar sendo ameaçado por posseiros da região de Pium e que já registrara a ocorrência numa delegacia do Rio. A polícia de Tocantins investiga a origem das armas. Nader foi preso numa propriedade de 200 alqueires, dos quais ele alega ter apenas mil metros. No local teria sido montado um clube de pesca administrado por cinco pessoas, todas do Rio. No chalé onde estava Nader, os policiais acharam acondicionados em uma geladeira oito quilos de Pirarucu, cuja pesca é proibida. Em depoimento, Nader afirmou que os peixes eram de um nativo da região de Pium. Entre os pentes de munição encontrados pela polícia havia vários de calibre .45. Dois, segundo o depoimento do parlamentar, pertenceriam ao general Roberto Pacífico. O militar já havia deixado o lugar antes da prisão. Ontem, depuseram o sargento da PM fluminense Renato Luciano Amora, que faria a segurança do deputado, e o coronel do Corpo de Bombeiros do Rio Pedro Cipriano da Silva Júnior, que foi comandante da corporação no governo de Benedita da Silva. Os dois foram liberados após prestar depoimento. O delegado adjunto da Dema, Fernando Ubaldo, enviou ofício à Assembléia Legislativa do Rio informando a prisão do deputado. Depois do depoimento, ele foi levado para uma cela especial da Casa de Custódia, destinada a presos provisórios. — Houve um fato penal que está sendo apurado. Disse ao delegado que o colocasse em sala especial e enviasse ofício à Assembléia do Rio de Janeiro, e também à de Tocantins, e que também oficiasse ao juiz criminal. O artigo 53 da Constituição diz que o deputado só pode ser preso em flagrante ou por crime inafiançável, que é o caso do porte de arma — disse o secretário de Segurança Pública de Tocantins, Júlio Resplande. Segundo a polícia, a prisão foi feita a partir de uma denúncia anônima ao Instituto Natureza do Tocantins, órgão de defesa ambiental do estado. O denunciante teria avisado que estava havendo pesca ilegal e disparos de tiro. O instituto chamou a Polícia Militar Ambiental.

Fonte:
http://oglobo.globo.com/jornal/pais/188799092.asp