27 outubro, 2005

Justiça, altruísmo e doenças cardiácas

27/10/2005 - 11h00m
Relação com o chefe pode ser fator de risco para doenças cardíacas
Agências Internacionais

LONDRES - Profissionais que acreditam que seus superiores os ouvem, consideram seus pontos de vista, os incluem em processos de decisão e geralmente os tratam com franqueza tendem a apresentar níveis baixos de estresse, de emoções negativas e de faltas, segundo afirmaram pesquisadores do Reino Unido. Os pesquisadores analisaram a saúde cardiovascular de mais de 6 mil britânicos. Os resultados do estudo, publicados no "Archives of Internal Medicine", mostraram que os profissionais que vivenciavam um alto nível de justiça no ambiente profissional tinham 30% menos risco de desenvolver doenças coronarianas do que aqueles que trabalhavam em ambientes hostis. - Há mecanismos plausíveis que ligam o senso de justiça a doenças cardiovasculares. Esta sensação de justiça é capaz de reduzir os efeitos do estresse crônico caracterizados por alterações no sistema autônomo e neuroendócrinas, desenvolvimento de síndrome metabólica e resistência à insulina, distúrbios de coagulação e inflamatórios, além de problemas no sistema imune - explicou o médico Mika Kivimaki, do Finnish Institute of Occupational Health, que trabalhou em conjunto com pesquisadores da Escola de Medicina da University College London. No estudo, foram feitos exames de pressão em profissionais subordinados a mais de uma pessoa. Os testes eram realizados em dias diferentes, de acordo com o chefe com o qual a pessoa iria lidar. Nos dias em que o contato era com o superior mais justo, a pressão não subia, ao contrário do que acontecia quando o mesmo profissional tinha que lidar com o chefe "pouco afável". Os pesquisadores usaram dados do antigo estudo Whitehall II, que envolveu profissionais com idade entre 35 e 55 anos, de 20 departamentos do serviço público de Londres, e, para o estudo atual, separaram 6.442 dos participantes que apresentavam doenças coronarianas ou fatores de risco para essas doenças. Os participantes também responderam um questionário sobre o "clima" no local de trabalho. Entre as perguntas estavam: "você já foi criticado em público injustamente?" e "com que freqüência seu superior escuta seus problemas?". Para chegar ao resultado final, os pesquisadores usaram programas de cruzamento de dados. Também foram considerados o nível de colesterol (medido no início do estudo) e hábitos pessoais como sedentarismo e consumo de tabaco e bebida alcoólica. - Embora outros fatores psicossociais como pressão no trabalho e desequilíbrio na relação esforço e recompensa predispõem a doenças coronarianas, o nível de justiça no relacionamento com os chefes se mostrou um fator independente de prognóstico para doença coronariana - afirmou Mika Kivimaki. - Justiça, eqüidade e altruísmo motivaram o desenvolvimento positivo da sociedade, de acordo com um vasto leque de estudos. Nossos resultados sobre as doenças coronarianas, a principal causa de morte em todas as sociedades ocidentais, sugerem que a justiça nas organizações também é um tema digno de consideração em pesquisa de saúde - concluiu.

Fonte:
http://oglobo.globo.com/especiais/vivermelhor/mat/188941930.asp

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