05 setembro, 2005

Uma questão de dignadade

UMA QUESTÃO DE DIGNIDADE

O cheiro acre das ruas de Biloxi (na foto ao lado), no Mississipi, berço do blues e estado mais pobre dos Estados Unidos, me levou de volta às alamedas e vielas de Bagdá, nas primeiras semanas da guerra, em 2003. As ruas daqui, na verdade, agora fedem mais que as de lá.No Iraque o fumegante resultado dos bombardeios americanos exalava um odor metálico que, aos poucos, se misturava com o que brotava dos cadáveres que o Pentágono preferia denominar tecnicamente como “danos colaterais”. Ou seja: os inocentes, vítimas dos ataques que os generais insistiam em qualificar como “cirúrgicos” – na tentativa de dar a eles uma precisão que era claramente inexistente.Aqui, o mau cheiro brota de toneladas de frangos e camarões que estavam estocados para distribuição aos mercados e que , por causa da falta de energia elétrica – varrida pelo furacão Katrina – começaram a apodrecer, sob um calor de 41 graus centígrados. Fedentina que, como em Bagdá, é também impregnada do mau cheiro dos cadáveres que, seis dias depois do ataque furioso do vendaval desumano, ainda continuam expostos.E nisso reside a diferença básica entre os dois cenários. Em Bagdá os iraquianos recolhiam os seus mortos imediatamente, mesmo sob a incessante chuva de bombas e, sem condições de lhes dar um enterro apropriado. Eles eram colocados dignamente em covas rasas e provisórias em terrenos baldios e inclusive em jardins de hospitais, à espera do momento em que pudessem ser levados a um cemitério.Aqui, no país mais rico do mundo, os mortos do Katrina são deixados por conta da própria natureza, sob o argumento de que a prioridade é a de atender os sobreviventes. Estes, porém, tampouco têm merecido a atenção devida do governo que, desprezando vários alertas de especialistas sobre a iminência de um desastre de proporções bíblicas, preferiu cortar quase pela metade (42%) – desde 2003 - os recursos destinados aos programas de proteção contra furacões e inundações no Mississipi e na Louisiana.A parcela das verbas retirada desse setor vem sendo utilizada para custear a guerra no Iraque que, ao contrário do que o presidente George W. Bush anunciara triunfalmente em maio de 2003, ainda não acabou. As suas vítimas, no entanto, têm recebido mais respeito que as do Katrina.

José Meirelles Passos
Correspondente do jornal 'O Globo' em Washington e enviado especial à região afetada pelo furacão Katrina, no Sul dos EUASite do colunista:
www.iis.com.br/~cat/catalisando-->Email:Jmeirelles@oglobo.com.br

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Meu comentário:

Durante a guerra de independência contra a Inglaterra, o delta do Mississipi e a região hoje afetada pelo furação Katrina, foi um grande obstáculo a entrada do exército inglês, que teve como conseqüências imediatas, a derrota do mesmo por falta de apoio e reforços. Hoje, a situação se inverteu, o que falta é a ajuda do próprio governo americano para uma região.
Que os soldados americanos voltem do Iraque, para ajudar seus compatriotas.

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