22 setembro, 2005

Cuidado com o que se deseja!

Eu prefiro a ignorancia das pessoas mais humildes e pobres (não de espírito, na maioria das vezes), do que a indiferença da classe média. E infelizmente esta classe média de quem se refere estas palavras, são aquelas que sento ao lado, passo por elas pelos corredores, na cantina, das reuniões de onde já se sabe o resultado da ata, de todos os encontros para melhorar o clima organizacional, etc...
Nunca fui de... Ops... Espere, houve um tempo em sempre quis fazer parte da turma. Nesta primeira tentativa eu ainda era criança, me lembro bem, morava ainda em Itapecerica, próximo de Divinópolis. Eu e minha família moramos lá apenas 6 meses. Depois voltamos novamente para Caxambu, minha cidade natal. Mais seis meses, fomos morar em Divinópolis, isto já era o ano de 1975. Espere, saltei a melhor parte, quando nós morávamos em São Sebastião do Paraiso, era o ano de 1972. Estudava com meu irmão gêmeo, Álvaro. Mas não sei o porque, não havia aquela relação de proximidade com ele. Talvez ele quisesse um irmão menos comportado. Por isso que mesmo nas férias que passávamos em Caxambu, ele era mais companheiro do meu primo, o Fernandinho. E quando nosso primos do Rio de Janeiro também estavam de férias em Caxambu, eles faziam um grupo só. Eu não me encaixava no grupo. Me lembro uma vez na piscina do parque, que brincando de "pique" (uma brincadeira de correr e esconder), cai no chão molhado da piscina. A dor era insuportável. Mas mesmo assim eles me fizeram tentar levantar, mas não conseguia faze-los entender que eu não estava fingindo. Então me deixaram lá no chão sem ajuda, até que apareceu alguém que perguntou o que eu tinha. Expliquei a situação. Ele chamou meu irmão e meus primos que por sua vez, chamaram meu pai. Lembro-me que meu pai me carregou para fora do parque e pegou uma charrete de passeio (custume local), que nos levou para casa. Passei estas férias com o pé esquerdo enfaixado. Como se eu tivesse destroncado o pé. A dor continuou pelos próximos dias, até que somente em São Sebastião do Paraíso, minha mãe me levou para o Hospital local. Lá foram tiradas outras radiografias, que constataram que o pé esquerdo estava quebrado. Já saí de lá com o pé engessado.
No meu primeiro dia de aula, não me lembro como cheguei ao colégio, mas me lembro que usava pernas de pau. Não conseguia imaginar até quando eu teria que usar aquelas coisas. Fiquei ansioso só de pensar como iria fazer para ir e vir do colégio todos os dias.
Não me lembro de minha infância de um episódio mais alegre do que quando no primeiro dia de aula, um colega bem maior do que eu, me pegou e colocou em seus ombros e me levou para casa. Minha melhor sensação de afeto humano recebido que me lembro, somente superado pelo que hoje minha filha me dá, mesmo quando ela está dormindo, pois somente a presença dela me afaga.
Falando de sensações, as duas piores que me lembro, foram uma em São Sebastião do Paraíso e outra depois em Itapeceriaca. Ña escola em São Sebastião do Paraíso, tinha uma professora, que não me lembro o nome. Certo dia em sala de aula, ela não gostava que os alunos conversassem em sala de aula. Naquele dia eu estava pedindo lápis de cor para um colega ao lado. Como não queria falar e o som chamar a atenção da professora, resolvi escrever um bilhete e passar para este colega. Passei o bilhete para ele com o pedido. Gando estava entregando o mesmo, este colega chamou a professora e disse que eu o estava importunando. Quando notei a intensão dele, ainda estava com a metade do bilhete na minha mão e a outra na mão dele. O que ocorreu então foi a divisão do tal bilhete em dois. Com a primeira metade do mesmo em suas mãos, a professora veio e me pediu o pedaço de bilhete e passou um "sabão" em mim. Ela disse que não queria ser interrompida novamente. Passados alguns minutos, o meu colega de modo inusitado, chamou a professora e disse que eu lhe havia passado outro bilhete, contrariando assim a sua ordem. Mas era apenas a metade do primeiro bilhete que já estava nas mãos do aluno fingido. Ela correu na direção dele, pegou o bilhete, e fez com que eu engolisse o bilhete, e apesar de eu insistir em dizer que não era "outro" bilhete, mas a metade do primeiro.
Outro episódio, foi quando morava em Itapecerica. Minha avó nos havia presentiado com umas miniaturas de carrinho de ferro. Eu estava com um na minha mão e quando vi meu irmão com um colega dele, corri em direção dos dois e mostrei-lhes com a palma da mão aberta, o carrinho sobre ela. Mal havia acabado de pronunciar minhas palavras de satisfação, o amigo de meu irmão deu um tapa sobre minha mão, jogando assim o carrinho longe. Quando o peguei novamente, ele estava todo arranhado pela queda ao chão. Mesmo depois de adulto, vejo que tenho que segurar minhas emoções, mesmo quando elas estão para explodir de satisfação ou alegria.

Não são só as crianças que tem inveja da felicidade dos outros, os adultos são piores. Principalmente quando se está no trabalho. Numa época em que o trabalho é pouco recompensador e não só no ponto de vista econômico, gostar do que faz deve ser difícil para muita gente, ver alguém trabalhar feliz, deve ser muito mais difícil de suportar, é a única explicação para que eu tenho para o modo de agir de muitos que trabalham comigo.
Diria que aprender a gostar do que se faz é uma tarefa impossível de se aprender numa faculdade, não existe nem mesmo uma cadeira que nos dê uma nota sobre isto.
Não adianta dizer que a média das notas em sala de aula é diretamente proporcional ao gosto da profissão escolhida.

Depois de passar por situações que meus coordenadores tentarem me humilhar, uma das máscaras que eu assumo que uso e mostro o porque, é não expressar alegria nas pequenas coisas que faço diariamente. Expressar felicidade incomoda!!! Principalmente para quem não tem!!!
Minha alegria no que façao é parecido com o carrinho que ganhei de presente, se mostrar esta alegria, haverá alguém incomodado. Se você que ler este texto disser que "por que se incomodar com que o outro pensa?", lhe digo, não sei a razão, mas me sinto melhor não mostrando esta alegria. Foi a opção que escolhi.

Quando escolhi fazer minha análise, numa analistas com credenciais para isto, escolhi faze-la ao invés de concluir meu curso de engenharia, que tanto gosto, meu sonho desde criança. Talvez eu a conclua depois que sair do meu emprego atual.

Me escondo atrás de mim mesmo. Nunca escolhi entrar em grupinhos de papo de futebol, sexo (digo sexo, e não sobre mulheres), drogas, músicas, política, etc...

Sei que nunca vou ocupar um cargo de engenheiro, analista, ou muito menos o que sempre quis, te programador, um volega valorizado. Mas por que seria valorizado, se até mesmo TODOS que me rodeiam buscam a mesma coisa? É um mal sinal. Se estes estão nesta busca, de fato isto TAMBÉM deve assolá-los numa angustia profunda. O que me faz imaginar que em seus círculos de relacionamento, isto o que eu sinto, também os aflige. Como conseqüência lógica, nos faz pensar que quanto mais alto se chega na pirâmide social, menos reais são os relacionamentos.
Não acretido em elogios baratos, estes são feitos para te deixar estagnado ou para ser explorado. Sinto que não sou daqui, serei um eterno estrangeiro.
Talves minha escolha seja a sintese de uma frase chinesa: "Cuidado com o que se deseja!". Se diminuirmos nossa expectativa, diminuimos nossa ansiedade, se perdemos, perdemos pouco. Se vivemos, e se é que isto é vida, vivemos pouco.

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