27 setembro, 2005

Plutocracia Internacional do Brasil I

EDUCAÇÃO E ENGANAÇÃO

“Aquele que vem a ser príncipe com a ajuda dos ricos se mantém com maior dificuldade do que aquele que o consegue com o apoio do povo” – Maquiavel, O Príncipe, início do século XVI. Pai da ciência política, o extraordinário mestre florentino sabia das coisas. O Brasil tinha acabado de ser descoberto, era talvez ainda bem mais selvagem do que hoje, e já estava escrito um livro genial em que a política – e os políticos – foram tratados com lucidez e objetividade. Como entendemos a afirmação acima? Ora, meus caros, ela é uma bandeira de esperança. Maquiavel mostra aí que só o poder democrático tem solidez e durabilidade. Tudo o que é “plutocrático” (de plutocracia, poder do dinheiro) ou oligárquico (de oligarquia, governo de minorias, em geral famílias, privilegiadas) se conserva a duras penas. Assim como todo poder imposto a força. Nos nossos dias, estamos vendo um espetáculo bastante esclarecedor: os americanos, com o seu poderio tecnológico, mais uma vez em apuros, morrendo todo dia, para segurar as batatas quentes de um inferno generalizado, um povo e uma cultura com que não têm nada a ver e que invadiram, assaltaram, violentaram, para lhe saquear o petróleo (de que é o segundo produtor do mundo). Mais um pouco e sua situação será insustentável. O nosso Maquiavel, no mesmo livro, há quase 500 anos, já proferia claramente sua sentença, e eles não a aprendem: “Por mais poderoso que seja o exército de que se dispõe, para tomar um país é sempre ainda maior a necessidade do apoio de seus habitantes”.Para tudo é preciso o apoio do povo. O nosso apoio. Daí a necessidade de nos educarmos para apoiar as pessoas certas, na hora certa. O mau político, assim como o mau negociante, é um enganador: quer sempre vender gato (ou até rato) por lebre. A propaganda é seu veículo preferido. Aos brados, pelas ruas e meios de comunicação, ou à boca pequena, de casa em casa. As campanhas eleitorais são transformadas, muitas vezes, em grandes programas de enganação. Serge Tchakhotine (traduzido na década de 1960 pelo atual presidente do PSB, Miguel Arraes) mostra como a propaganda política mais barulhenta e enganadora começou nos EUA. O próprio Goebels, competente ministro da propaganda nazista, se inspirou na mistificação americana, nos seus métodos e táticas. E, como o leitor bem sabe, também lá, como cá, é enorme o risco de os vencedores virem a ser os que puseram mais dinheiro na propaganda: isso, obviamente, é a própria negação, ou a traição completa, do processo democrático.Pelos frutos (mas também pelas flores) realmente se conhecem as árvores e as pessoas. Não se deve eleger um político: deve-se eleger um programa de realizações, e só de alguém que já tenha experiência no setor, tenha exercido um mandato inatacável, tenha sempre colocado o bem público acima do bem particular, de seu bolso e sua família. Corrupto de qualquer espécie, no varejo ou no atacado, lata de lixo com ele. Para facilitar as coisas, o povo deve-se organizar, independentemente das campanhas e processos eleitorais. Reunir-se para discutir as alternativas, orientar-se com especialistas, informar-se nos jornais e semanários de qualidade. Uma boa coisa, amplamente aprovada no Rio de Janeiro, é a fundação das associações de moradores. Por meio delas, se pode acompanhar a carreira dos políticos locais, avaliar seu desempenho, cobrar o cumprimento de promessas e objetivos. A carreira do mau político tem de ser abortada, para não ter conseqüências piores e prejudicar ainda mais o eleitorado. Em compensação, um bom político, um homem público honesto e eficiente pode ser uma dádiva, uma ponta de lança dos anseios do povo.Uma digressão, o leitor me perdoe: estranha, essa reforma ministerial. Quem privilegiar a educação, nessa terra, tem de acreditar no Cristóvão Buarque, em sua integridade e competência. Pois ele foi demitido. Que a Benedita da Silva caísse fora, muito bem, já saiu tarde. Mas o professor Cristóvão, o que significa isso? Será que temos mais um governo pouco interessado na educação? Se assim, for, meus caros, vai tudo novamente por água baixo. Rezemos.


*Poeta, crítico literário, lexicógrafo e tradutor residente em Mendes/RJ.

Mande um email para esta coluna: maurogama@sulrj.com

Esta é a versão em cache de http://ww3.sulrj.com/colunas/maurogama/arquivo/20022004.htm no G o o g l e obtida em 24 jan. 2005 09:44:40 GMT.


Plutocracia:

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Plutocracia é termo de origem grega (πλουτοκρατία de πλοῦτος (plóutos), riqueza, e κρατεῖν, (kratos), poder), daí a ploutokratia ou plutocracia ser considerado o governo fundado no dinheiro, na corrupção.

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