26 outubro, 2009

Paralelos de um controle total

Para arejar minha mente no fim de semana, decide ir ao Festival Internacional de Quadrinhos, ocorrido aqui em Belo Horizonte neste mês, há 3 semanas, lá no Palácio das Artes e no Parque Municipal. Avistei um livro que já me era familiar de comentários e artigos pela internet. Resolvi comprá-lo, e além do interesse anterior, o autor, um canadense, estava lá para autografar, sem fila nenhuma. O livro tem o título  Pyongyang, e o subtítulo: “Uma Viagem à Coréia do Norte”, o autor: Guy Delisle, que mora hoje com a família no sul da França. Ele autografava o livro para todos da fila e ainda desenhava uma das cenas contidas também no seu livro.
O autor foi enviado por um estúdio francês de produções para tv, para supervisonar a produção terceirizada da estatal SEK, Norte Coreana, por dois mêses.Sendo desenhista, ele fez o livro na forma de quadrinhos, com um humor muito sutil, para quem conhece as questões envolvidas do controle autoritário por parte do estado (empresa) e seus habitantes (empregados), e não é por acaso que uma das primeiras pinceladas deste humor é destacada no início, quando ele escolhe justamente levar o célebre livro de George Orwel , 1984, junto com sua bagagem de mão, juntamente com um rádio portátil. Como no livro 1984, muitos temas são proibidos de se falar na Coréia do Norte, as pessoas fingem ignorar, como numa passagem que ele pergunta ao seu guia: “O que é aquela construção ali?”, o guia responde não saber o que é, apesar do prédio ter centenas de metros de altura, e estar inacabado. Ele algumas vezes sem autorização saía pelas ruas à pé, e as pessoas fingiam ignorá-lo, ele imaginava que se alguém conversasse com ele, mesmo para perguntar se estava perdido, poderia ser considerado um traidor, informante, colaboracionista, ou seja, um crime. Existem passagens muito interessantes, como uma que os trabalhadores da limpeza de um prédio, estão amarrados por uma corda, e todo o sistema que os mantém seguros é uma roldana simples, uma armação metálica com pedras e tijolos sendo usados de contrapeso, ou quando ele vai a um museu de corredores imensos, com o chão em mármore espelhado, eles pedem a ele tirar os sapatos e colocar pantufas para não riscar o chão do museu.
Se você já sentiu alguma vez que seu trabalho é tedioso ou sufocante, talvez mude de idéia ao se deliciar na leitura deste, mas infelizmente vai notar que não estamos muito longe disso no capitalismo ocidental, aqui as coisas são tão sutis quanto o humor de Guy Delisle, e as pessoas também fingem ignorá-las.

O livro: Pyongyang: uma viagem à Coréia do Norte, Guy Delisle. Campinas, SP: Zarabatana Books, 2007.
referente a: Google (ver no Google Sidewiki)

p.s.

Depois de escrever o texto acima, descobri um texto de um filósofo do século I, Epicteto, sobre como lidar com a ética em ambientes hostis: http://svmmvmbonvm.org/epicteto.pdf

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