RIO - A descoberta de um fóssil praticamente completo de uma espécie de cobra pré-histórica dotada de patas posteriores bem desenvolvidas pode colocar um ponto final em um acalorado e polêmico debate no meio científico: seriam os animais originários da terra ou da água? Para a equipe de pesquisadores liderada pelo brasileiro Hussam Zaher, do Museu de Zoologia da Universidades de São Paulo, e pelo argentino Sebastián Apesteguía, do Museu de Ciências Naturais Bernardino Rivadavia, de Buenos Aires, a análise do fóssil de 65 milhões de anos não deixa dúvidas.
- As primeiras cobras eram terrestres, dotadas de robustas patas posteriores e que escavavam, e não descendentes de animais aquáticos, que emigraram para a terra firme - afirmou Hussam Zaher, em entrevista ao GLOBO ONLINE.
O artigo contendo os detalhes do estudo está na última edição da revista "Nature".
A discussão acerca da origem das cobras foi iniciada em 1997, quando uma equipe de pesquisadores australianos e canadenses descreveu uma espécie de cobra com patas encontrada em Israel como um parente próximo dos mosassauros, lagartos marinhos já extintos. Para os cientistas envolvidos no estudo, a descoberta sustentaria a teoria de que os animais teriam se originado na água. Conclusão à qual Zaher se opôs veementemente.
- Os dados divulgados pelos autores me levaram a uma conclusão diametralmente oposta - afirmou o pesquisador da Universidade de São Paulo.
Para o brasileiro, a 'pachyrhachis' não teria relação com os lagartos pré-históricos, mas com as jibóias e os pítons. Assim como um segundo espécime de cobra com patas (o 'haasiophis') descoberto na mesma região alguns anos depois e descrito pela equipe de pesquisadores integrada pelo brasileiro.
- As espécies descobertas em Israel não passam de cobras evoluídas (perivadas). Nada têm a ver com as origens do grupo.
Segundo Zaher, o que diferencia fundamentalmente o espécime recém-descoberto dos demais é a existência de sacros, ossos triangulares localizados na região da coluna vertebral, que são ligados ao funcionamento motor.
- Nos espécimes anteriormente descritos, as patas não estavam associadas ao eixo vertebral, o que significa que as mesmas não eram funcionais no sentido da sustentação. Essa informação é importante porque indica a 'idade' do novo espécime, este sim, primitivo.
Além disso, o cientista aponta outras características anatômicas do 'najashrionegrina' que o associa claramente à vida terrestre ou semifussoarial (subterrânea).
- Há pelo menos três motivos para rejeitarmos veementemente a hipótese de origem marinha: as vértebras posteriores são compactadas e sem espinho neural bem definido; a parte posterior do crânio é projetada lateralmente e achatada dorsoventralmente; o supratemporal encontra-se encaixado na caixa craniana - explicou.
O fóssil foi descoberto em 2003 na localidade de Rio Negro, no sul da Argentina.
Fonte:
http://oglobo.globo.com/online/ciencia/mat/2006/04/19/246884109.asp
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