16 novembro, 2005

Sunitas pedem inquérito internacional sobre abusos

O maior partido sunita do Iraque, o Partido Islâmico Iraquiano, pediu a instalação de um inquérito internacional sobre os supostos maus-tratos de 173 presos por tropas iraquiana em Bagdá.


O Partido Islâmico Iraquiano diz que as investigações lideradas por iraquianos de casos anteriores de supostos abusos não produziram resultados.
Também nesta terça, o governo do Iraque mandou uma equipe de investigadores à cidade de Falluja, depois que os Estados Unidos admitiram ter usado fósforo branco como bomba incendiária contra insurgentes na cidade há um ano.
A ministra em exercício de Direitos Humanos, Narmin Uthman, disse que determinou a sua equipe que examine os possíveis efeitos dessas armas sobre civis.
'Nuvens de fumaça'
O uso de fósforo branco não é ilegal e o produto não é classificado como arma química.
No entanto, o especialista em Defesa da BBC, Frank Gardner, diz que a revelação é negativa para o trabalho de relações públicas dos militares americanos.
As autoridades americanas haviam dito que as armas de fósforo branco tinham sido usadas no Iraque somente para iluminação ou para criar nuvens de fumaça em batalhas.
Nesta quarta-feira, três soldados americanos foram mortos em um ataque a bomba contra uma patrulha no norte de Bagdá.
Investigação internacional
Já o primeiro-ministro do Iraque, Ibrahim Jaafari, determinou na terça-feira que fosse aberto inquérito para apurar os supostos abusos contra prisioneiros.
Mas o porta-voz do Partido Islâmico Iraquiano, Iyad Al-Samarrai, disse que somente uma investigação internacional chegaria ao fundo dos alegados maus-tratos.
"Houve casos semelhantes no passado e as investigações sobre eles não levaram a nada", disse Al-Samarrai à agência de notícias AFP.
"Queremos um inquérito internacional e imparcial, pois estamos começando a achar que há funcionários em altos postos do governo que são responsáveis, ou pelo menos cúmplices:"
Alaa Makki, outro porta-voz do partido, acusou as forças lideradas pelos Estados Unidos de dar "luz verde" aos supostos abusos.
Os Estados Unidos estão apoiando o inquérito do governo do Iraque e dizem que aqueles responsáveis pelos maus-tratos devem ser responsabilizados.
Lobby
O caso foi descoberto durante uma operação dos Estados Unidos em um prédio do Ministério do Interior na capital iraquiana, Bagdá, em que foram encontrados 173 prisioneiros, alguns parecendo desnutridos ou que teriam, aparentemente, sido submetidos a tortura.
Washington diz que o suposto abuso é preocupante e que não pratica tortura nem acredita que outros deveriam fazê-lo.
A descoberta dos prisioneiros acontece em meio a novas alegações de maus-tratos a presos por tropas americanas no Iraque.
Dois ex-prisioneiros iraquianos disseram a uma TV americana que tinham apanhado, sido atacados com balas de borracha e submetidos a falsas execuções por soldados americanos em 2003.
Os Estados Unidos também têm feito lobby contra a proibição de todo tratamento desumano a prisioneiros e está sob pressão internacional para responder a acusações de que a CIA mantêm prisões secretas no exterior.
Sunitas
Os presos descobertos no Iraque seriam muçulmanos sunitas.
Eles foram encontrados no domingo, quando tropas americanas assumiram o controle sobre o prédio, depois que as autoridades receberam pedidos para ajudar a localizar um adolescente desaparecido.
Ibrahim Al-Jaafari disse à agência de notícias Associated Press que os detidos foram levados para um lugar melhor e que "será providenciado tratamento médico para eles".
"Pelo que sabemos, infelizmente, todos os detidos eram sunitas", disse Mohsen Abdul-Hamid, chefe do Partido Islâmico Iraquiano, formado por sunitas, à Associated Press.
"Buscando terroristas, eles costumavam deter centenas de pessoas inocentes e torturá-las brutalmente", acrescentou.
A Anistia Internacional aprovou o pedido de inquérito feito pelo primeiro-ministro iraquiano, mas pediu também para que Al-Jaafari estenda a investigação para analisar todas as alegações de tortura e não esconda os resultados das investigações.

Fonte:
http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/story/2005/11/051116_abusoscc.shtml

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