16 novembro, 2005

Engenheiros do mundo

Fabiana Ribeiro*
Enviada especial FRANKFURT

Marketing. Administração. Economia. À primeira vista, esses são temas pouco associados à engenharia. Que evoluiu. Ao entrar no universo da globalização, a engenharia exige dos profissionais muito mais do que conceitos ligados à sua área de formação. Assim disseram representantes de oito universidades de diferentes países — entre elas a Universidade de São Paulo (USP) — que se uniram para traçar o perfil do engenheiro global. Batizado de “Global Engineering Excellence”, o projeto foi lançado em outubro na Alemanha e, desde então, tem um ano para traçar o perfil desse profissional e dizer qual é o tipo de engenheiro que o mercado pede hoje. — Ter apenas conhecimentos teóricos não leva o profissional à economia global. O engenheiro precisa usar a outra parte do cérebro para, assim, criar produtos e soluções com emoção. Ao ser menos racional, ele dá mais identidade a seu produto. É isso que o consumidor espera — disse Andreas Zielke, diretor da consultoria McKinsey & Company. Cliente deve ser visto como ponte para a inovação e a criatividade Num rascunho do perfil do engenheiro, as universidades foram unânimes ao dizer que ele precisa entender as necessidades do cliente. Podem até torcer o nariz para a análise, mas os engenheiros terão de aprender a se comunicar — mais e melhor — com o consumidor, afirmaram os especialistas. Ou seja, seus produtos e soluções deixam de ser apenas funcionais. — O cliente deve ser visto como um meio para estimular a inovação e a criatividade do engenheiro. É preciso haver uma aproximação entre a área de marketing e a engenharia. Só que as instituições de ensino ainda estão inadequadas a esta filosofia. Daí, a importância desse projeto que reúne tantos especialistas — frisou Thomas Sattelberger, executivo da Continental AG, multinacional fabricante de peças automotivas, patrocinadora do programa. Outro ponto levantado no lançamento do projeto — que será atualizado de dois em dois anos — é a necessidade de o profissional ter fluência em inglês. E, mais que isso, ser capaz de trabalhar em outros países e lidar com pessoas de culturas diferentes. O mercado é global: não há mais fronteiras. — Há uma crescente população de engenheiros globais. Mas eles são minoria. Ou simplesmente não estão em mercados globais. Mas o engenheiro precisa ter essa mobilidade em mente. Uma pesquisa feita na Rússia mostrou que uma pequena quantidade de profissionais, apenas 6%, mudariam de país ou cidade. Isso é estar na contramão da globalização — disse Zielke. — O profissional precisa estar aberto a mudanças. Na Continental, há 5.500 engenheiros de 20 nacionalidades — ressaltou Sattelberger. Professor da USP diz que Brasil tem profissionais preparados O tetracampeão mundial de Fórmula 1 Alain Prost foi um dos palestrantes do lançamento do projeto. Segundo ele, que durante toda a carreira esteve cercado por engenheiros, a base da profissão está na inovação (obtida a partir da mistura da tecnologia e do conhecimento). E na capacidade de o profissional conseguir trabalhar com outro especialista, sem se chocar: — O difícil não é encontrar especialistas em Fórmula 1. O problema é colocá-los no mesmo time. E ele precisa ter paixão pelo que faz. Tanta exigência para uma carreira tradicionalmente técnica deixa uma pergunta no ar: o Brasil está preparado para esse mercado? — O Brasil tem engenheiros com esse perfil. Temos profissionais aptos para trabalhar em qualquer empresa, de qualquer lugar do mundo. Queremos tornar isso mais forte, já que somos um país que faz parte do mercado global — disse Marcio Lobo, professor da Politécnica, da USP.

Fonte:
http://oglobo.globo.com/jornal/suplementos/boachance/189142003.asp

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