10/11/2005
Carlos Langoni foi o primeiro a demonstrar com clareza as principais causas da alta desigualdade brasileira. Na época, o papel capital da educação identificado por ele foi rechaçado por muitos. Na literatura econômica e social imediatamente posterior ao livro, uns concordaram, outros discordaram da tese de Langoni, mas todos que discutiram a questão da desigualdade de renda brasileira com alguma profundidade, invariavelmente se referenciaram a esta obra. A Fundação Getúlio Vargas (FGV), por meio de de sua editora, está fazendo justo tributo ao trabalho de Langoni com a nova edição de um clássico, "Distribuição da Renda e Desenvolvimento Econômico do Brasil", publicado há três décadas. O Brasil parece agora ter aprendido a lição da importância da escola. Isto é visível não apenas nas discussões acadêmicas como nos debates públicos. Hoje, se convidarmos especialistas, políticos e mesmo leigos para elencar os principais determinantes da desigualdade, do crescimento e da pobreza, teremos como resposta: educação, educação e educação. Hoje o diagnóstico educacional, então ousado, virou consenso. Após o trabalho de Langoni, gerações de pesquisadores se debruçaram sobre o campo de pesquisa aberto por ele no país. Este trabalho de Langoni é, sem dúvida, o pai da moderna literatura brasileira sobre desigualdade de renda no país. A pedra fundamental deste próspero campo de pesquisa no Brasil foi, indubitavelmente, estabelecida neste trabalho de Langoni. O livro alia o rigor científico à praticidade de quem demanda respostas das políticas públicas. O fato é que as lições fornecidas pela pesquisa continuam atuais. À época, a argumentação para o aumento da desigualdade observada nos anos 60 era que na corrida entre oferta e demanda por trabalho estava sendo liderada pela última. Neste contexto, Langoni extraiu duas lições básicas: o forte ritmo de crescimento da economia e o impacto sobre a remuneração relativa do trabalho mais qualificado foi o propulsor da mudança de patamar da desigualdade então observada. A outra lição é que apesar do aumento da concentração de renda, o processo gerou aumentos do nível de bem estar social. O ex-ministro Antonio Delfim Netto, em seu prefácio para versão anterior deste livro, disse que: "Como todo trabalho científico, a pesquisa do professor Langoni está aqui para ser superada, como conseqüência do enorme interesse que ela certamente suscitará". Ouso dizer que a pesquisa de Langoni ainda não foi superada, seja pela atualidade das técnicas utilizadas - que hoje são apenas processadas com maior rapidez, fruto dos avanços da informática -, como pelos seus resultados substantivos encontrados que continuam tão atuais como antes. A desigualdade de renda continua alta e a educação continua a desempenhar papel central na sua explicação. Em suma, a tese central deste livro é que a interação entre a baixa oferta de mão-de-obra qualificada aliada ao aumento na sua demanda impulsionada pelo crescimento ao ritmo do milagre econômico brasileiro foram os principais responsáveis pela alta da desigualdade brasileira observada nos anos 60. Isto pode parecer nostalgia, mas é um pensamento que continua atual. De acordo com as últimas três edições da Pesquisa Anual de Amostras a Domicílio (Pnad) do IBGE, a desigualdade brasileira começa a dar sinais de queda, nada de magnitude comparável ao aumento analisado por Langoni. A tese do mestre de gerações dos economistas sociais parece voltar a manifestar-se. A expansão do sistema educacional ocorrida na última década, aliada ao baixo crescimento da economia ao ritmo das chamadas décadas perdidas, reflete, hoje, a imagem invertida no espelho da história contada por Carlos Langoni há mais de 30 anos. Desculpem-me os céticos, mas educação é fundamental!
Texto de Marcelo Neri publicado originalmente no jornal Valor Econômico.
Fonte:
http://www.revistadigital.com.br/ideias_numeros.asp?CodMateria=2967
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