03/11/2005 - 21h05m
Adriana Vasconcelos - O Globo
BRASÍLIA - A CPI dos Correios chegou à conclusão de que R$ 10 milhões destinados pelo Banco do Brasil à publicidade da Visanet, empresa da qual o BB tem 33% do capital, foram parar no valerioduto. O relator e o sub-relator da CPI, os deputados Osmar Serraglio (PMDB-PR) e Eduardo Paes (PSDB-RJ), afirmam ter documentos que comprovam que o BB adiantou os recursos à agência de publicidade DNA, que tinha a conta do Visanet, e que este dinheiro foi depositado inicialmente numa conta da agência no BB. Dias depois foi transferido para o BMG e em seguida teria sido repassado por Marcos Valério ao PT em forma de empréstimos. Os recursos se referem à parte destinada ao BB na verba de publicidade da Visanet e a CPI concluiu que não há comprovação de prestação de serviço pela agência. A CPI diz que uma nota técnica do BB comprova o pagamento antecipado feito pela Visanet à DNA no dia 12 de março de 2004. No dia 15, a DNA aplicou o dinheiro num fundo do BB, transferido no dia 22 para o BMG. Quatro dias depois, o BMG concedeu empréstimo a Rogério Lanza Tolentino e Associados Ltda, no valor de R$ 10 milhões, tendo como garantia o aval de Valério, do próprio Tolentino e de uma aplicação financeira em nome da DNA no BMG. Esse empréstimo de R$ 10 milhões consta na relação de Valério como sendo dinheiro que a DNA tomou emprestado para o PT, o que comprovaria o desvio do dinheiro adiantado pelo BB. Segundo a CPI, o BB reconhece o repasse do dinheiro e inclusive já está cobrando da DNA R$ 9 milhões que teriam sido antecipados à agência em 2004 por serviços não prestados. O comando da CPI afirma que essa cobrança só aconteceu no dia 25 de outubro deste ano, dez dias atrás. Ou seja, o dinheiro foi liberado para um serviço que na verdade não foi oferecido pela agência de publicidade. Por isso, a CPI pretende convocar vários dirigentes do BB que assinaram a nota, como Henrique Pizzolato, ex-diretor de Marketing, Douglas Macedo, gerente-executivo, Leonardo Batista, gerente de divisão, além do gerente-executivo Cláudio de Castro Vanconcelos e Fernando Barbosa de Oliveira. - Está comprovado que R$ 10 milhões de dinheiro público foram parar no valerioduto. Isso é dinheiro público colocado na mão de um partido - disse Eduardo Paes. A CPI também suspeita de uma operação semelhante envolvendo a Visanet em 2003, mas os integrantes da comissão ainda não conseguiram as provas. Segundo eles, no dia 19 de abril de 2003 a Visanet antecipou, por meio do Banco do Brasil, R$ 23,3 milhões para a DNA em publicidade. No dia seguinte o dinheiro foi aplicado no BB e, cinco dias depois, a SMP&B tomou um empréstimo de R$ 19 milhões no Banco Rural. A CPI ainda não tem a comprovação de que o dinheiro foi transferido para o Rural, mas afirma que dias depois Valério tomou um empréstimo de R$ 19 milhões no Rural, que consta na relação do empresário como emprestado ao PT. Serraglio afirma que foram verificados vários crimes, como peculato, corrupção ativa e passiva, tráfico de influência, lavagem de dinheiro e prevaricação e acredita que todos os responsáveis diretos pela operação deverão ser incriminados civil, criminal e administrativamente. O desvio de dinheiro da Visanet, segundo Serraglio, teria sido uma das principais fontes do suposto mensalão, que seria pago a parlamentares da base aliada. A descoberta desmonta versão dos empréstimos feitos pelo PT. Em nota divulgada na noite desta quinta, o Banco do Brasil confirma que a DNA não prestou os serviços correspondentes a R$ 9,1 milhões pagos antecipadamente pelo banco para promover os cartões Visanet, o que levou o BB a impetrar uma ação judicial contra a agência no dia 25 de outubro. Na nota, o BB diz que desde setembro de 2004 não fez mais depósitos antecipados para a agência, passando a só fazer o repasse do dinheiro a partir da efetiva comprovação dos serviços. Na nota, o BB diz que foram repassados R$ 58,3 milhões à DNA, dos quais apenas R$ 49,2 milhões foram aplicados em ações de marketing, ficando os restantes sem a devida prestação de serviços. O BB diz que as transferências feitas à DNA, cujo contrato foi rescindido em 15 de julho deste ano, depois que veio a público o escândalo envolvendo o PT e o valerioduto, foram realizadas exclusivamente como pagamento por serviços de marketing e que o banco "não compactua e condena eventuais desvios que possam ter ocorrido na destinação desses recursos". O BB informa ainda que está sendo realizada uma auditoria interna na área de marketing e propaganda da empresa.
Fonte:
http://oglobo.globo.com/online/pais/189029921.asp
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